terça-feira, outubro 19, 2010

JORGE DOXUM - ILE AXE KARE ELEYE: O REC�NCAVO DOS MEUS MEDOS

jorgedoxumkare@hotmail.com

O RECÔNCAVO DOS MEUS MEDOS

O RECÔNCAVO DOS MEUS MEDOS



O vislumbre de uma forma de morte me fez acordar às 03:30 da manhã de hoje. Levantei da cama inquieto e aflito, liguei o computador, naveguei bom tempo pra ver se as emoções que me despertaram se dissipavam.

Funcionou e por volta das cinco já tava no berço, a sono solto.

Há tempos que não dava bola pros meus sonhos, como hoje. São frequentemente tão surreais que cansei de tentar investigar possíveis sinais que pudessem me orientar a partir do momento em que estivesse novamente com os pés no chão, pronto para mais uma jornada.

Não dá. Não li Jung o suficiente, não faço psicoterapia, nunca me submeti a uma sessão de hipnose ou de regressão a vidas passadas. Não que tudo isso passe longe do meu interesse ou necessidade. Adoraria poder investigar os escaninhos da minha inconsciência com a ajuda de quem tem as ferramentas adequadas para isso e saiba manejá-las com conhecimento e sensibilidade. Mas não o fiz até agora, por negligência ou inconfessado receio. Ou quem sabe pelo desalento causado pela inacapacidade de entender o que penso quando acordado.

Estava diante de alguma situação corriqueira, num ambiente com pessoas produzindo um certo alarido, quando fui abduzido numa fração de segundo e remetido à órbita de uma esfera branca, onde tudo era silêncio e imobilidade. Ali fiquei tempo suficiente para tentar entender o que acontecia e não gostar nem um pouco. Abri os olhos, e acordei respirando opresivamente. Manja aqueles sonhos em que você não consegue vencer a imobilidade e sente medo disso? pois é, já sonhei assim também, embora isso não aconteça recorentemente.

A novidade foi o clique, a transferência súbita de ambiente, como que se eu tivesse sido desligado de onde estava -um lugar como qualquer outro, familiar ao cotidiano- para um completamente desconhecido. Quis entender o que se passara.

Sentei há pouco em frente ao computador. Naveguei no noticiário, li e-mail e fui dar uma xeretada livre por aí, talvez para dar espaços para à intuição. Deparei-me com o blog do Adenor Gondim, que produz e publica belas imagens da Bahia. Uma me chamou a atenção, é essa que ilustra esse post, aí em cima. O adjá toca pra Yemanjá em Cachoeira, à beira do rio Paraguaçú, ela que no Brasil tornou-se tão popular por herdar de Olokun o patronato das águas do mar mas que não perdeu sua autoridade como senhora dos rios. O mito da gênese de Yemanjá, a propósito, relata como ela se tornou orixá ao transformar-se num rio, lá na velha África.

Quem sou eu pra não registrar aqui meus temores e minha reverência. Tô começando a até achar bom isso. Arrisco ganhar um afago de Liliana Pinheiro -a mulher, a lenda, o mito- que não perdoa o tom politicamente correto e multiculturalista que muitas vezes inspira esse terreirinho blogosférico aqui. Dois ganhos num só post, nada mal.

Yemanjá é uma deusa poderosa e zela por seus filhos e filhas como uma leoa, até por aquelas que insistem em não compreender o mito de Ogunté, que de espada em punho não se esquiva de enfrentar suas batalhas ao lado de Ogun, seu eterno companheiro. E saem distribuindo porrada cegamente -nelas mesmas, muitas vezes. E em quem as ama, mais frequentemente ainda.

A orixá tem muito do que cuidar e mesmo sem conhecer a fundo o que se passa não hesita em sair na defesa de seu povo. Reverencio suas garras de mãe, primeiro defende depois vai ver do que se trata.

Espero ter me explicado à deusa e que possa dormir em paz hoje. E espero também que ela perdôe minha impaciência com a belicosidade juvenil de suas lindas e cabeçudas oguntés. Se os orixás muitas vezes não toleram as bobagens de seus filhos e os punem exemplarmente, imagina eu que sequer entendo o que se passa dentro de mim numa noite de sono.

domingo, novembro 29, 2009

ROUPA DE SANTO

ILE AXE KARE ELEYE
JORGE D’OXUM KARE
Roupa do povo do santo

Indumentária afro-brasileira sobrevive como símbolo da cultura, da religião e da resistência dos negros no país.

Começa através das mãos da mãe, da avó ou da madrinha de um recém-nascido o primeiro ritual pelo qual passa uma criança nos terreiros de matriz africana. São elas que tecem ou encomendam um tecido que terá significado especial por toda a existência do descendente e mesmo após sua passagem pela terra. Dezesseis dias depois de nascer, a mão materna envolve o bebê no pano da costa especialmente lavado, incensado e perfumado para a ocasião. É assim que tem início o ikomojadê, cerimônia que apresenta, pela primeira vez, um novo filho ou filha às divindades reverenciadas no candomblé.

É sobre esse tecido que a criança fica deitada, enquanto o líder religioso da casa profere palavras sagradas de prosperidade ao recém-nascido. O grupo faz saudações especiais diante de Xangô, Dadá, Oxum e Iemanjá. Depois, derrama um pouco da água da quartinha na cabeça da criança. Em alguns locais, nesse momento é escolhido um nome em iorubá para o bebê. “É uma comemoração à vida, ao nascimento. Você só pede coisas boas para aquele bebê. Esse tecido branco vai acompanhá-lo para sempre”, explica e egbomi Cici, do Terreiro Ilê Axé Opô Aganju e pesquisadora da Fundação Pierre Verger.

Guardado pela família, o tecido do Ikomojadê estará ao lado da criança até o dia em que, jovem ou adulta, se despeça da vida. Ainda que o ritual tenha variações – em algumas casas, ocorre no nono dia – ele revela pistas da importância da indumentária para a cultura negro-africana transportada pelo processo forçado da diáspora.

Um pedaço de pano pode simbolizar a sobrevivência de toda uma identidade e conservar detalhes fundamentais de uma cultura. É possível perceber as diferenças entre o povo de nação jeje, angola e iorubá apenas pela maneira de amarrar o torço na cabeça, só para citar um exemplo. O simples gesto de prender os cabelos num turbante, herança que sobrevive através das vestes das baianas de acarajé, preserva a riqueza de um hábito iniciado do outro lado do mar.

E não foram apenas os escravos seguidores da religião de raiz africana que reafirmaram a identidade através da forma de se vestir. Os negros muçulmanos eram tão reconhecidos por suas roupas nas ruas da velha Salvador que, graças a elas, foi possível constatar o papel central desempenhado pelos malês na rebelião de 1835. “Os rebeldes – ou uma boa parte deles – foram para as ruas com roupas usadas na Bahia pelos adeptos do islamismo. No corpo de muitos dos que morreram a polícia encontrou amuletos muçulmanos e papéis com rezas e passagens do Qur’an usados para proteção. Essas e outras marcas da revolta levaram o chefe da polícia Francisco Gonçalves Martins a concluir o óbvio: ‘o certo’, escreveu ele, ‘é que a religião tinha sua parte na sublevação’”, descreve o pesquisador João José Reis em Rebelião Escrava no Brasil.


Foto de Haroldo Abrantes



Vestir-se bem é questão de honra entre os africanos e seus descendentes. Seja para homenagear uma divindade ou para mostrar prosperidade, é preciso estar elegante. Elegância não necessariamente à européia, apesar de alguns itens do vestuário nagô terem, sim, influência nas volumosas anáguas e rendas da Corte. O charme de um traje africano está na combinação de cores fortes, ou no branco soberano. Está no jeito de amarrar, sem dar um único nó, um tecido na cintura, e ele não cair nem com o mais rápido dos movimentos. Está na escolha de acessórios que, quanto mais tribais, mais contemporâneos parecem. Não é sem razão que os ícones da moda resgatam, cada vez com maior freqüência, as influências étnicas. Estampas, balangandãs, colares, brincos e pulseiras têm espaço hoje até mesmo nas mais badaladas vitrines.

O segredo de seu uso, entretanto, é guardado para poucos. É preciso ter a personalidade de quem não se curva diante das adversidades para exibir sobre o corpo, com elegância, cada uma dessas peças. A pele negra reluzente ajuda, mas não é só isso. Há uma sutileza no caminhar, no jeito de se sentar e até no modo de encarar alguém. Quem se entrega, de corpo e alma, à história preservada em uma roupa, esse sim, ganha porte de rei ou rainha.

Partido-alto
De tão bem vestidas, as negras da irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte arrancaram aplausos entusiasmados de milhares de pessoas no desfile do 4º centenário de Salvador, em 1949. Impressionado com os torços, saias rendadas, cordões e brincos de ouro, Odorico Tavares classificou a passagem desse grupo de “pretas baianas, de idade avançada, caminhando serena e nobremente, como se fossem autênticas rainhas” como o maior momento do cortejo.

Roupa é assunto tão sério que o termo “mulher de saia”, na década de 30, designava um grupo de baixo poder aquisitivo, que se opunha às mulheres de vestido. Talvez como vingança às más línguas que apontavam com desdém e pena as mulheres que precisavam trabalhar, aquelas que se destacavam no ramo respondiam com luxo às críticas. Comerciantes de sucesso, desbravaram mercados, cozinharam, lavaram, costuraram e muitas juntaram dinheiro suficiente para comprar boas roupas e jóias de ouro reluzente. Surgiam, assim, as famosas negras do partido-alto. A roupa usada por elas nos dias de festa, o traje de crioula, deu origem ao vestuário da baiana de acarajé.


Da rua e das irmandades para o interior dos terreiros, o cuidado com a forma de se vestir é o mesmo. Agradar ao orixá, inquice ou vodum, nomes diferentes para as mesmas forças da natureza nas nações de origem ketu, angola ou jeje, respectivamente, é sem dúvida uma de suas principais razões. No candomblé, a divindade traz a energia fundamental, o axé, através do corpo do iniciado. Para recebê-lo, há trajes com cores e peças específicas, além de acessórios como ferramentas e fios de contas. Juntos, eles narram a história de cada entidade. Ajudam a contar, através dos movimentos da dança, os atos heróicos e exemplares do orixá.

“A roupa é a expressão mais sofisticada de uma religião que trabalha com o elemento estético como determinante”, afirma o historiador Jaime Sodré. A indumentária em um terreiro é tão organizada que expressa, inclusive, os graus hierárquicos de seus filhos. Só os mais antigos devem usar os trajes mais paramentados, cheios de fitas e bordados. É uma forma de reverenciar a sabedoria dos mais velhos.

Se os antigos filhos de orixá aprendiam a confeccionar suas próprias roupas no período de iniciação religiosa, hoje essa tradição corre o risco de se perder. Alguns terreiros têm promovido oficinas para transmitir às novas gerações o legado artístico de seus antepassados. O poder dessa alta costura de origem africana é tão forte que há muito ultrapassou a porteira dos terreiros. Reflexos dessa influência podem ser percebidos pelas ruas da cidade. “Basta olharmos a quantidade de pessoas vestidas de branco na sexta-feira, dia de Oxalá, e os homens e mulheres de vermelho na quarta, dia de Xangô e Iansã”, descreve Jaime Sodré. Mesmo sem ligação com a religiosidade, o simples hábito de adotar, no cotidiano, elementos de inspiração afro-brasileira revela que, mais do que uma forma de cobrir o corpo, a indumentária tem a capacidade de preservar parte importante da identidade e da cultura de um povo.

HIERARQUIA DO TRAJE
Somente aos mais antigos iniciados do candomblé é permitido o uso de todos os elementos do figurino afro-brasileiro.

A beleza dos trajes de ialorixás como Mãe Menininha do Gantois, Mãe Senhora, Olga de Alaketu, Gaiaku Luiza, Mãe Runhó e tantas outras exprime mais do que o esmero das costuras impecáveis. Quem conhece o universo da religião dos orixás sabe que somente pessoas com alto grau hierárquico podem usar todos os elementos do figurino afro-brasileiro. No candomblé, o tempo de iniciação religiosa é diretamente proporcional à importância e à reverência feita a cada membro da comunidade. Lá, o tema cada vez mais atual do respeito à terceira idade sempre foi regra. Nos terreiros, cabelos brancos são sinal de autoridade.


Foto de Welton Araújo



Por mais posses e dinheiro que um iniciante tenha, ele terá que começar como todos os outros: vestindo a roupa de ração. A vestimenta dos abiãs, nome dado aos recém-chegados, assim como a dos iaôs e muzenzas – espécies de noviços – é a mais simples possível. Branca dos pés à cabeça, confeccionada em morim, inclui o camisu ou camisa de crioula. Para os homens, a calça de ração. Para as mulheres, a saia de crioula. A cabeça, parte do corpo mais importante por guardar o axé, estará sempre coberta pelo ojá. Tudo sem rendas, babados ou decotes.

Cor ancestral
“O branco, que representa a paz, é a cor de Oxalá, o pai de todos os orixás. Ele não é respeitado apenas pelas pessoas, mas também pelas outras divindades”, explica a ekede Cinha, do Terreiro da Casa Branca. Associado à ancestralidade, o branco de Oxalá é a cor utilizada no “nascimento” de um novo iniciado e também nos rituais fúnebres, chamados de axexê. “Para nós, a vida e a morte têm quase o mesmo significado, porque não acreditamos em um fim. Quando morremos, viramos ancestrais”, explica a ekede.

Nenhuma fita enfeita a barra da saia de uma iaô. O primeiro adereço é adicionado quando ela completa um ano de iniciação. No terceiro ano, ganha mais duas fitas. No sétimo, são mais quatro. “Serão feitas roupas belíssimas de acordo com o tempo de iniciação e também com as posses. O tecido vai variar, mas se for uma iaô, mesmo rica, ela não pode se vestir como as mais velhas”, explica Dona Cici, que ocupa o cargo de egbomi, um dos mais respeitados das casas de matriz africana, já que só é concedido aos mais antigos.

Essas gradações no trajar servem, inclusive, como maneira de identificar ocupantes de altos postos religiosos nos terreiros. “Se chega uma pessoa toda paramentada, você vai tomar a bênção”, exemplifica Jaime Sodré. Mas a roupa de ração nunca é esquecida: é ela que todos os integrantes da religião usam para desempenhar as atividades e obrigações cotidianas.



Identidade no torço
Durante o período da escravidão, era comum perceber as diferenças entre as culturas africanas trazidas ao Brasil através de detalhes da roupa. Entre as nagôs, o ojá era amarrado com várias voltas ao redor da cabeça. Já as negras jeje usavam um lenço sobre os cabelos. Dobravam o tecido em formato triangular, com a ponta para trás. “Até hoje, em Cachoeira, você conhece quando uma negra é de origem jeje pela forma de amarrar o torço”, compara a egbomi Cici. Preocupadas em esconder o cabelo, as muçulmanas amarravam o turbante com as pontas soltas para trás. Usavam, ainda, o pano-da-costa sempre do lado esquerdo.

Cobrir a cabeça era tão importante para o povo antigo que, de acordo com muitos relatos, era tradição, só sair de casa com torço ou chapéu. De acordo com José Valladares, em O torço da bahiana, mais de uma razão levava a crioula a conservar a cabeça protegida. “A primeira é resguardá-la contra o sol, sereno e chuva. A segunda é de ordem religiosa: realmente, se não com um turbante, como poderia sair à rua a filha de santo que terminou sua iniciação e que por isso está com a cabeça raspada?”.

Mistura de influências
Justamente pela preocupação em cobrir todo o corpo, as negras islâmicas preferiam os tecidos pesados e quase não usavam bordados. O muçulmano, mesmo quando descalço, sinal da condição de escravo, andava com o corpo todo coberto. Já a nagô se esmerava para produzir os mais belos bordados e muitas anáguas, devido à influência da Corte portuguesa no Novo Mundo.

Se a Europa tem sua cota de participação no figurino dos descendentes de africanos no Brasil, também é grande a herança árabe-islâmica. “O turbante é reconhecidamente de influência mulçumana, que chegou ao Brasil provavelmente através dos escravos islamizados, durante o Ciclo da Baía do Benin no século XIX, e também pelos portugueses”, afirmam as pesquisadoras Juliana Monteiro e Luzia Gomes Ferreira no texto As roupas de crioula o século XIX e o traje da beca na contemporaneidade: símbolos de identidade e memória. As chinelas com ponta virada, utilizadas por algumas negras em ocasiões especiais, bem como as batas longas e bordadas à mão, são também referências islâmicas. Enquanto as muçulmanas pensavam em esconder o corpo, as nagôs ostentavam o charme dos camisus bordados em richelieu, como veremos adiante.


Mas não era somente nos século XVIII e XIX que os negros utilizavam a roupa, no cotidiano, como expressão de sua identidade. Hoje, já existem membros da religião dos orixás que usam peças da indumentária africana fora dos rituais religiosos. É o caso do babalorixá Balbino Daniel de Paula, fundador do Ilê Axé Opô Aganju, localizado em Lauro de Freitas. Seja nas tarefas domésticas, seja em compromissos sociais como uma festa, casamento ou restaurante, é com roupas do continente de seus ancestrais que ele comparece.

Em casa, Balbino amarra na cintura um tecido africano de cores vibrantes. Mesmo sem nenhum nó ou laço, o pano não se solta mesmo com movimentos rápidos. A técnica é mesma feita pela estilista nigeriana Rasidat Lola Akanni, proprietária da loja Abitoks, no Pelourinho. “Posso ir em qualquer lugar, que ele não solta”, garante. O babalorixá do Aganju foi um dos primeiros líderes religiosos do sexo masculino a usar peças africanas em lugar dos trajes civis, como calça e camisa. A transformação aconteceu na década de 70, após sua primeira viagem à África. “Quando eu tive oportunidade, comecei a usar. Passei a me sentir bem dentro delas”, conta.

Nas festas religiosas e ocasiões especiais, Balbino se veste com a elegância de um rei nagô. “O Papa não tem suas roupas? Nós também. Para cada festa de orixá, eu boto uma roupa daquela divindade, afinal, tenho que representar a minha religião. Para mim, andar bem arrumado é uma obrigação”, afirma. Ao lado dos tecidos especiais, o filho de Xangô combina cada peça ao fio de contas mais adequado à ocasião. No guarda-roupa, acessórios como um anel em formato de pássaro que pertenceu ao Rei da cidade de Agongô. “Ele era de Carybé. Eu ganhei de presente”.

Filha de Iroko
Também foi com vestes de rainha que a egbomi Cidália Soledade entrou no salão nobre da Câmara de Vereadores, no último dia 20 de dezembro. As portas do poder legislativo foram abertas para celebrar, em sessão especial, os 70 anos de consagração religiosa de uma das únicas filhas do orixá Iroko de que se tem notícia. Mesmo sentada numa cadeira de rodas, a imponência do traje branco e azul claro em richelieu mostrava a autoridade da senhora de 77 anos. Em seu discurso, ressaltou a importância da hierarquia, citando o nome de todas as ialorixás do Gantois, terminando com uma homenagem aos ancestrais. “Presto reverência a todos que vieram no navio negreiro. Eles são grandes responsáveis pelo sobrevivência de nossa cultura”.

Cidália ainda se lembra do dia em que, sete décadas atrás, ganhou roupa nova, duas tranças com laço de fita azul e até sapato, um enxoval completo feito sob medida para a data especial. O único problema foi domesticar dentro das sandálias os pezinhos acostumados à liberdade. “Eu era gorda, você precisava ver! Fui pisando em ovos, os pés doendo. Entrei no terreiro pela porta da frente, de mãos dadas com minha avó. Não entrei doente, não. Entrei foi gorda, aquela menina de 7 anos, que parecia que tinha 10”.

Dona Cidália Soledade conta histórias da década de 30, como se tivessem acontecido na semana passada. Recorda até da sensação ao tirar os sapatos, naquela primeira visita, para pedir a bênção à ialorixá da casa, Escolástica Maria da Conceição Nazareth. “Eu vivi outra vida. O sapato ficou rolando e até hoje não sei que fim levou”. Diante da sacerdotisa imortalizada com o nome de Menininha do Gantois, a filha do orixá-árvore se rendeu aos encantos de Oxum. “Quando tomei a bênção, Menininha disse: Oh, Cidalinha, como está grande! Oxalá lhe abençoe! Seja bem-vinda e venha para ficar!”.

INDUMENTÁRIA SAGRADA
Vestuário e adornos dos orixás, inquices e voduns reverenciam a história de cada divindade.

Quem vai pela primeira vez a uma cerimônia do candomblé pode se surpreender com a diferença de cores, adornos e ferramentas associados a um mesmo orixá. Iansã, a deusa dos ventos e tempestades, por exemplo, faz aparições vestida de branco, em tons de rosa claro ou vermelho. Pode trazer nas mãos o eruexim, confeccionado com crina de cavalo. Usado para dissipar os espíritos de energia negativa, ele evidencia a ligação da deusa com a ancestralidade, afinal Iansã é a única orixá capaz de enfrentar e dominar os eguns, espíritos ancestrais. Em outras versões, carrega o alfanje, um sabre curto e largo, que herdou da época em que era esposa de Ogum, orixá do ferro e da guerra. A senhora dos raios também porta dois chifres de búfala, animal com o qual aparece metamorfoseada, em alguns contos. Ver Iansã dançar no terreiro é observar, através dos movimentos, uma guerreira sensual, arrebatadora e poderosa.

Os adornos carregados pelo orixá não são escolhidos de acordo com a preferência dos filhos de santo. Dependem, na verdade, do narram dizem os mitos sobre cada divindade. É o que os iniciados costumam chamar de “marca” ou caminho do inquice ou vodum: como ele viveu, por onde passou, contra quem guerreou. Daí os nomes Xangô Afonjá, Xangô Aganju, Xangô Baru, Oxum Apará, Iemanjá Ogunté, só para citar alguns exemplos. E que ninguém pense que esses elementos são dispensáveis nas cerimônias. “Até mesmo para representar a história evocada numa determinada cantiga, o orixá precisa da ferramenta”, explica a ebommi Nice de Oiá.

Rei de Ketu
Filhos dedicados como o babá Ossain do Terreiro Ilê Axé Opô Aganju vão a fundo na pesquisa em busca das características particulares da divindade que lhes acompanha. “Tenho uma responsabilidade grande para identificar os elementos de Oxossi e trazê-lo em essência”, afirma Mauro Rossi. O chapéu usado pelo senhor da caça na última festa do terreiro foi todo feito à mão, em couro. Oxossi geralmente carrega o ofá, arco e flecha forjado em ferro, mas pode trazer os bilala, dois pequenos chicotes, como Carybé mostra em Os deuses africanos no candomblé da Bahia. O orixá caçador também traz uma capanga, a bolsa de couro onde coloca a caça que irá alimentar o povo. Rei de Ketu, Oxossi pode portar o eruquerê, objeto sagrado que simboliza a realeza.

No culto a egum ou egungun, os espíritos ancestrais ilustres aparecem em cerimônias e rituais para trazer mensagens e boas vibrações para seus descendentes. Como, na religião de origem africana, a energia viva não deve se misturar com a dos mortos, não é permitido qualquer contato físico entre os dois mundos. Para o babá egum, é confeccionada uma roupa especial, com largas tiras de tecidos, búzios, espelhos e outros elementos que lembram sua identidade. Acredita-se que o próprio espírito dê vida ao traje que se ergue sobre o piso e desliza pelo barracão. A roupa, nesse caso, tem a importância de fazer o contato direto entre o homem e seu ancestral. É só através dela que é feita essa comunicação.

“Todos esses modelos preservam insígnias importantes para a história do candomblé”, analisa o historiador Jaime Sodré. Não se trata apenas de beleza, nem adianta escolher o tecido mais caro ou as cores mais vivas. “O orixá não enxerga o valor financeiro, nem o ouro. O que ele quer é que você esteja digno de revelá-lo em seu corpo”, acrescenta Jaime.

Preparar a roupa que será usada pelo iniciado no momento da chegada do orixá exige um profundo conhecimento da história de cada divindade. Cada ponto do tecido é costurado de acordo com as regras de cada casa, num misto de razão e sensibilidade. Por isso, muita gente defende que a indumentária litúrgica seja confeccionada somente por pessoas da própria religião. “A roupa tem que ter axé e por isso tem que ser feita na casa de candomblé”, defende Jaime Sodré. Como a procura por esse tipo de traje tem aumentado em todo o país, já existem lojas especializadas no ramo.

Jóias de Axé
O mesmo acontece com os fios-de-contas. Os que são vendidos já prontos em feiras e mercados turísticos são pouco utilizados por quem vive nos terreiros. “A confecção de uma conta é algo muito sério. Quando se enfia uma conta, você deve concentrar toda a energia em cada uma das miçangas. Depois, é preciso lavá-la com as folhas devidas. Caso todo esse ritual não seja cumprido, o elo de energia se perde”, afirma Mauro Rossi.


Foto de Haroldo Abrantes



Os fios-de-contas são assunto de tanta responsabilidade que o babalorixá é quem escolhe a pessoa que fará as primeiras contas de cada novo membro da comunidade. “Intransferível, o fio-de-contas é um objeto permanente. É acompanhante da vida, no trabalho, no lazer, nos diferentes momentos sagrados no terreiro”, diz o antropólogo e museólogo Raul Lody no livro Jóias de Axé. De todos os fios, existe um que irá seguir o iniciado por toda a vida, o runjebe. “Existe todo um ritual de rezas para a confecção dele”, explica Mauro. Essa peça, feita com miçangas marrons, corais e seguis, simboliza a história da vida daquela pessoa e vai acompanhá-la pela eternidade. De tão especial, o runjebe só é entregue na obrigação de sete anos de feitura de um iaô.


Foto de Haroldo Abrantes

Aos 68 anos, a egbomi Nice de Oiá, da Casa Branca, conhece de perto o prazer de se sentir bela. “É um privilégio recebermos essa energia da natureza, então gosto de me vestir com muito capricho para que a própria divindade se sinta bem”, afirma. Os trajes de inspiração africana já integram o cotidiano da filha de Iansã. “Sinto prazer em usar minhas roupas africanas, minhas contas, meus brincos, meus ojás. Ando a caráter no dia-a-dia porque não nego minhas raízes. Devemos nos orgulhar daquilo que somos”, enfatiza.

Orgulho também não falta aos filhos de terreiros angola e jeje. Apesar de descenderem de nações diferentes, cultuam divindades semelhantes, só que com outros nomes. “Dandalunda, que corresponde a Oxum, tem contas amarelo leitosas, em vez de douradas. Ela não usa o abebé, mas tem aquelas continhas de lágrimas de Nossa Senhora”, descreve o xicarangoma Esmeraldo Emetério de Santana Filho, o Chucuca, do Terreiro Tumba Junçara. Ao contrário do que acontece nos terreiros nagôs, os inquices femininos não se enfeitam com peças como o filá e o abebé.

Outra característica forte dos bantos é o uso de penas nos adornos dos inquices, sobretudo nos caboclos. “Os índios conviveram muito com o povo banto, que foram os primeiros escravos africanos a chegar ao Brasil. Então o uso da pena é uma forma de reverência, faz parte de nossa identidade”, explica Chucuca. Para o xicarangoma – responsável pela comunicação através do toque dos instrumentos musicais – justamente por terem chegado antes de integrantes de outras nações, houve perdas na tradição angola. “Não houve tempo para nossos ancestrais trazerem seus pertences e assentamentos religiosos. Por isso, houve uma certa influência do povo iorubá. Mas isso não justifica o que algumas fazem, falar que somos umbandistas, por exemplo”.

Intercâmbio religioso
A troca de informações entre representantes das diversas nações africanas que chegaram ao Brasil fez com que tradições se modificassem. Tanto que hoje é difícil falar em costumes exclusivamente nagôs, angola ou jeje. Apesar de, sem dúvida, provocarem a perda de certos elementos, essa capacidade de diálogo foi fundamental para a sobrevivência das expressões religiosas de origem africana.

Algumas casas, entretanto, tentam conservar ao máximo as regras ditadas pelos primeiras sacerdotisas. No terreiro que foi liderado por Gaiaku Luiza, na cidade de Cachoeira, a iniciação religiosa, por exemplo, exige um ano de dedicação do aspirante. Em outras locais, devido às necessidades de trabalho e estudo, esse tempo já foi bastante reduzido.

A estética do figurino jeje finca raízes na simplicidade. A Hunkpame Ayiono Huntoloji, ekede confirmada em 1983 pela própria Gaiaku, fala com tranqüilidade e exprime grande respeito pela religião ancestral. “Até nosso torço é diferente. Acordado, fora das festas, a gente fica sempre descalço e sem nenhum pano cobrindo a cabeça”, compara Cleuza Maria Santana Santos. Na casa de origem jeje, a hierarquia do traje envolve uma quantidade menor de adornos. Todas as filhas, mesmo as mais antigas, usam a camisa de crioula. “Só quem usa a bata é a mãe de santo. Há filhos de 40 anos de feitos que andam descalços e ainda sentam na esteira”, acrescenta.

Rei do Pano Branco
A simplicidade também é a palavra que guia as roupas e adornos do primeiro orixá criado por Olodumaré, Oxalá, o Rei do Pano Branco. Suas filhas do sexo feminino usam saia, um ojá na cabeça e outros ojás amarrados no corpo, chamados de pacajás. Os homens, em vez da saia, vestem um bombacho, tudo confeccionado em tecidos simples como o madrasto. Nas mãos, ele leva o opaxorô, ferramenta com três divisórias cheias de simbolismo. Como Oxalá é o pai supremo, ligado ao nascimento e à morte, sua força transita entre os três mundos do candomblé: o Orum, onde estão aqueles que já viveram, o Aiyê Airí, morada dos que ainda estão por vir, e a terra onde habitamos, o Aiyê. No alto do opaxorô, o pássaro Osun, que tem a missão de estar sempre acordado para tomar conta dos filhos do orixá.


FORÇA FEMININA
A roupa de crioula e o traje de beca simbolizam a ascensão social conquistada pelas negras através da religião e do trabalho nas ruas.

Festa da Boa Morte
Primeiro Dia – Irmãs vestidas de branco, numa alusão à cor do luto no candomblé.
Segundo Dia – Irmãs vestem saia preta plissada, com bata branca. O rosto e o cabelo são cobertos pelo bioco, lenço branco que homenageia as negras muçulmanas.
Terceiro Dia – É o dia do Traje de Beca, quando as tradicionais jóias de crioula são exibidas, em um ato de fortalecimento da identidade e da auto-estima dessas mulheres.
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Foto de Ricardo Prado



Na Bahia Colonial, lugar de mulher era dentro de casa. As damas das famílias mais poderosas afastavam-se pouquíssimo do ambiente doméstico. Sair do sobrado, só mesmo para algum espetáculo teatral ou festa imperdível. Chegava a ser irônico: ver roupas caríssimas e luxuosas trancadas nos sobrados. Além dos homens, quem tinha liberdade para ir e vir pelas ruas da cidade eram as mulheres mais pobres, negociantes que possuíam vendas, escravas de ganho, negras que mercavam pela cidade. Livres, saíam para providenciar o sustento das próprias casas. Cativas, aumentavam o rendimento de seus senhores ou mesmo labutavam para comprar a própria alforria.

“O que se via era o avesso da indolência conventual das senhoras brancas da elite. A vida corria ao ar livre. Tudo era atividade. E o fato é que eram principalmente elas e os negros de ganho que davam colorido às ruas da cidade”, afirma Antonio Risério em Uma história da Cidade da Bahia. Muito desse colorido tinha origem nas roupas com que se vestiam as afro-brasileiras. Uma combinação de tons, rendas e tecidos que impressionava o olhar dos viajantes europeus que desembarcavam em terras brasileiras.

Nem mesmo o Príncipe Maximiliano de Habsburgo, com o olhar eurocêntrico comum ao período, ficou incólume ao figurino tão diferente dos salões europeus. No livro Bahia 1860, ele descreve as vestes de uma mulher que surpreendeu o grupo. “Ela vestia a roupa pitoresca e singular das negras brasileiras, que lembra ainda sua pátria africana: um vestido de algodão de floreado vistoso flutua negligentemente em torno de suas ancas que se balançam molemente, uma camisa branca sem mangas, que parece jogada lá por acaso, envolve o busto. Para circular na cidade, um xale matizado de diversas cores cai dos ombros em pregas elegantes”. Na opinião do historiador Jaime Sodré, a profusão de cores vivas é uma das maiores contribuições da herança religiosa africana ao vestuário baiano. “O candomblé trouxe para a sociedade baiana a ousadia de usar cores”, afirma o pesquisador.

Como apontam os pesquisadores Juliana Monteiro, Luzia Gomes Ferreira e Joseania Miranda Freitas, as roupas, nas diversas sociedades, além de protegerem o corpo e destacarem a beleza, estabelecem hierarquias e tornam-se símbolos identitários por meio dos quais é possível refletir sobre os valores sócio-culturais de determinados grupos.


Foto de Ricardo Prado

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Quando alguem lhe ofender


Quando alguém lhe provocar irritações, pegue um copo de água,beba um pouco e conserve o resto na boca. Não ponha, nem engula. Enquanto durar a tentação de responder. Deixe a água banhar a lingua. Esta é a água da paz. Chico Xavier

terça-feira, janeiro 06, 2009

Hoje é dia de Reis.

Hoje é Dia de Reis. Você sabe o que é isso?
Reis Magos, santos esquecidos dentro das tradições do Natal
Das figuras bíblicas mais intimamente ligadas à tradição religiosa do povo destacam-se os Reis Magos, ou melhor, os Santos Reis .As referências bíblicas são vagas e o episódio quase passa despercebido dos evangelistas, mas as contribuições da tradição patriática são muitas e, como elas têm força de fé e verdade, nelas devemos buscar grande parte das coisas que se contam dos santos Belchior, Gaspar e Baltazar já referidos pelos profetas do Velho Testamento, que vaticinavam a homenagem dos Reis ao humilde filho de Davi que deveria nascer em Belém.De onde vieram e o que buscavam, pouca gente sabe. Reconhecido como Baltazar, rei da Arábia de cor negra o mago negro talvez viesse de Arábica . Melchior, rei da Pérsia de cor clara e Gaspar, rei da Índia de cor amarela. Simbolizam também as três unicas raças bíblicas, representam os povos de toda cor e nação. Reza a lenda que os Reis era negro africano, o outro branco europeu e o terceiro moreno (assírio ou persa), representando a humanidade conhecida da época. Uma homenagem, pois, de todos os homens da Terra ao Rei dos Reis
Eram magos, isto é, astrólogos e não feiticeiros. Naquele tempo a palavra mago tinha esse sentido, confundindo-se também com os termos sábio e filósofo. Eles prescrutavam o firmamento e sentiram-se chocados com a presença de um novo astro e, cada um deles, deixando suas terras depois de consultar seus pergaminhos e papiros cheios de palavras mágicas e fórmulas secretas, teve a revelação de que havia nascido o novo Rei de Judá e, que ele, como soberano, deveria, também, prestar seu preito ao menino que seria o monarca de todos os povos, embora o seu Reino não fosse deste mundo

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Quem Rege 2009

Yle Axe Kare Eleye - Jorge D'Oxum KareQuando chega esta época do ano, novembro Dezembro, recebo centenas de mensagens perguntando qual Orixá irá reger o ano novo. Não gosto muito de por isso a publico, porém este ano decidi deixar uma mensagem.Em minha casa de Santo, todo ano jogo os búzios para dessa forma ficar sabendo qual será o Orixá irá reger minha casa no ano vindouro, este é o Orixá para o qual a casa renderá maior devoção. É também neste jogo anual, que acontece em dezembro, que definimos outras obrigações como feituras, assentamentos e festas.2009 será regido por Iansã/Oiá/Oxosse, ao menos para a comunidade do Barracão, coincidentemente, o ano que acaba em 9 teve os búzios abertos em Ossá, que é o nono Odu, no seu quarto caminho, o que indica a força de Ossae muito presente. Como em Santa Catarina, a devastação que houve, teremos de plantar novamente novos sonhos, pois teremos muitos ventos e relâmpagos, mexendo com nossas vida-Yansa,Sabemos que cada pessoa tem o seu próprio destino a cumprir, e as escolhas que farão ao longo do próximo ano determinarão tudo o que vivenciarem, mas 2009 nos lembrará que só a partir de um resgate profundo de nosso caminho individual poderemos encontrar força, entusiasmo e alegria para transformarmos tudo a nossa volta.Regido por Oxosse/ Yansan.Se assim o for, melhor para todos nós porque, como bem diz Oxosse traz muita fartura. Por tanto Oxosse é um orixá que trás a verdade (diz a verdade na cara, doa a quem doer), Yansan Senhora da coragem dos rompantes, sem medo, Divindade do Fogo e da sensualidade, Yansã representa o movimento e a continuidade das gerações. Nos períodos regidos por ela, tente controlar seus impulso. Não decida nada em pensar bem antes. . Juntando os dois acredito que teremos um ano de muitas verdades ditas, muitas coisas encoberta serão reveladas.Obs:Por ser um ano com final 9 (nove), significa que OSSÁ MEJI também possui certa influencia no ano de 2009Regente: Iemanjá com influências de Xangô, Ossanhe, Oxossi e Yansan·Elemento: ÁguaSerá um ano de liderança, intolerância religiosa. As mulheres devem fazer seus exames preventivos, pois é um Odú que traz problema ginecológico para mulheres.2009 Tivemos muitas lutas em 2008, tensões e inícios de grandes mudanças que ainda se estenderão para 2009. As influências foram fortes, agressivas e muitas vezes violentas, mas também trouxe a oportunidade de muita reflexão sobre diversos assuntos, desde violência em transito, em casa, a eleição do novo presidente dos EUA, a crise econômica que hoje é uma das maiores preocupações mundiais e mais recentemente a tragédia em Santa Catarina. Um ano novo sempre nos deixa com as possibilidades de mudanças, crescimento e expansão, o que desejamos e o que necessitamos para viver de forma plena e feliz.Uma das mensagens de 2009 indica que teremos a chance de construir um mundo novo, mesmo que o ponto de partida sejam as crises econômicas, a preocupação com nossas dificuldades pessoais no trabalho, nos relacionamentos, nas finanças e assim por diante.Prefiro sempre acreditar que por mais difíceis que sejam as provações, existe sempre um oásis nos esperando logo à frente. Um horizonte cheio de boas influências nos aguarda logo mais e nos ajudará a separar o joio do trigo e a verdade prevalecerá ( Oxosse), portanto não devemos temer ( Yansan ), mas sim seguir adiante com perseverança e otimismo.Por isso, teremos um ano de oportunidades para o encontro consigo mesmo para iluminar nossos corações e atravessarmos as crises individuais e coletivas, principalmente no primeiro semestre.Será o ano do poder, portanto todas as glórias e todas as dificuldades que isso impõe também serão sentidas, principalmente nos cargos públicos e no cenário político em geral, mas também podemos nos orientar nesse sentido para que esta energia nos ajude a reforçar nosso poder pessoal em nossa vida sem que sejamos autoritários ou egoístas.Sou uma pessoa otimista e acredito que o Universo sempre conspira a nosso favor e que podemos alcançar à felicidade, paz e prosperidade plena. Ao fazermos nossa parte, estaremos prontos para celebrar a chegada de um feliz mundo novo.Yle axe kare EleyeJorge D'OxumBabalorixaJogo de Buzios / SabadosRua Musico Luis Adilson Porfirio/10Antiga Rua LenitaSanta Eugenia - Divisa - Nova Iguaçu9327-7797 * 2767-7304

terça-feira, dezembro 23, 2008

FELIZ NATAL


Quem rege 2009

Quem rege 2009?

Yle Axe Kare Eleye – Jorge D’Oxum Kare
Quando chega esta época do ano, novembro Dezembro, recebo centenas de mensagens perguntando qual Orixá irá reger o ano novo. Não gosto muito de por isso a publico, porém este ano decidi deixar uma mensagem.
Em minha casa de Santo, todo ano jogo os búzios para dessa forma ficar sabendo qual será o Orixá irá reger minha casa no ano vindouro, este é o Orixá para o qual a casa renderá maior devoção. É também neste jogo anual, que acontece em dezembro, que definimos outras obrigações como feituras, assentamentos e festas.
2009 será regido por Iansã/Oiá/Oxosse, ao menos para a comunidade do Barracão, coincidentemente, o ano que acaba em 9 teve os búzios abertos em Ossá, que é o nono Odu, no seu quarto caminho, o que indica a força de Ossae muito presente. Como em Santa Catarina, a devastação que houve, teremos de plantar novamente novos sonhos, pois teremos muitos ventos e relâmpagos, mexendo com nossas vida-Yansa,

Sabemos que cada pessoa tem o seu próprio destino a cumprir, e as escolhas que farão ao longo do próximo ano determinarão tudo o que vivenciarem, mas 2009 nos lembrará que só a partir de um resgate profundo de nosso caminho individual poderemos encontrar força, entusiasmo e alegria para transformarmos tudo a nossa volta.







Regido por Oxosse/ Yansan.

Se assim o for, melhor para todos nós porque, como bem diz Oxosse traz muita fartura. Por tanto Oxosse é um orixá que trás a verdade (diz a verdade na cara, doa a quem doer), Yansan Senhora da coragem dos rompantes, sem medo, Divindade do Fogo e da sensualidade, Yansã representa o movimento e a continuidade das gerações. Nos períodos regidos por ela, tente controlar seus impulso. Não decida nada em pensar bem antes.
. Juntando os dois acredito que teremos um ano de muitas verdades ditas, muitas coisas encoberta serão reveladas.


Obs:
Por ser um ano com final 9 (nove), significa que OSSÁ MEJI também possui certa influencia no ano de 2009Regente: Iemanjá com influências de Xangô, Ossanhe, Oxossi e Yansan·
Elemento: ÁguaSerá um ano de liderança, intolerância religiosa. As mulheres devem fazer seus exames preventivos, pois é um Odú que traz problema ginecológico para mulheres.




2009 Tivemos muitas lutas em 2008, tensões e inícios de grandes mudanças que ainda se estenderão para 2009. As influências foram fortes, agressivas e muitas vezes violentas, mas também trouxe a oportunidade de muita reflexão sobre diversos assuntos, desde violência em transito, em casa, a eleição do novo presidente dos EUA, a crise econômica que hoje é uma das maiores preocupações mundiais e mais recentemente a tragédia em Santa Catarina. Um ano novo sempre nos deixa com as possibilidades de mudanças, crescimento e expansão, o que desejamos e o que necessitamos para viver de forma plena e feliz.Uma das mensagens de 2009 indica que teremos a chance de construir um mundo novo, mesmo que o ponto de partida sejam as crises econômicas, a preocupação com nossas dificuldades pessoais no trabalho, nos relacionamentos, nas finanças e assim por diante.Prefiro sempre acreditar que por mais difíceis que sejam as provações, existe sempre um oásis nos esperando logo à frente. Um horizonte cheio de boas influências nos aguarda logo mais e nos ajudará a separar o joio do trigo e a verdade prevalecerá ( Oxosse), portanto não devemos temer ( Yansan ), mas sim seguir adiante com perseverança e otimismo. Por isso, teremos um ano de oportunidades para o encontro consigo mesmo para iluminar nossos corações e atravessarmos as crises individuais e coletivas, principalmente no primeiro semestre.Será o ano do poder, portanto todas as glórias e todas as dificuldades que isso impõe também serão sentidas, principalmente nos cargos públicos e no cenário político em geral, mas também podemos nos orientar nesse sentido para que esta energia nos ajude a reforçar nosso poder pessoal em nossa vida sem que sejamos autoritários ou egoístas. Sou uma pessoa otimista e acredito que o Universo sempre conspira a nosso favor e que podemos alcançar à felicidade, paz e prosperidade plena. Ao fazermos nossa parte, estaremos prontos para celebrar a chegada de um feliz mundo novo.

Yle axe kare Eleye
Jorge D’Oxum
Babalorixa

Jogo de Buzios / Sabados
Rua Musico Luis Adilson Porfirio/10
Antiga Rua Lenita
Santa Eugenia - Divisa - Nova Iguaçu
9327-7797 * 2767-7304



MENSAGEM DE NATAL

Para quem está com preguiça ou com pouca inspiração para pensar em mensagens de Natal, deixo aqui algumas…
Meus caros, digo-vos isto com tristeza. Este ano não há presépio: a vaca está louca e não se segura nas patas; os Reis magos não podem vir porque os camelos estão no governo; a nossa senhora e o são José foram meter os papeis para o rendimento mínimo; a ASAE fechou o estábulo por falta de condições e o tribunal de menores ordenou a entrega do menino ao pai biológico… E antes que me tirem as mensagens à borla aproveito para desejar um Bom Natal e um Feliz Ano Novo!!!
O Natal foi cancelado… e tudo por tua culpa! Eu disse ao Pai Natal que tu te tinhas portado muito bem e ele morreu de tanto de se rir… Feliz Natal!!!
Se um pombo te fizer cocó na cabeça, pensa na sorte que tiveste; é que nesta altura do ano as renas também voam… Feliz Natal!!!
Este Natal o Pai Natal não vai andar de chaminé em chaminé… vai andar de telemóvel em telemóvel, a desejar bom Natal a todos!!!
Uma vida sem amor seria solidão, uma vida sem ternura seria cruel, uma vida sem confiança seria vazia, mas sem amigos não seria vida!!! Bom Natal e um Bom Ano!!!
Uns caramelos inventaram esta mania de mandar sms a toda a gente e passamos o dia nisto. Eu só mando a quem realmente merece e gosto. Bom natal e grande 2007!!!
Só um coração aberto recebe AMOR, só uma mente aberta recebe SABEDORIA, só mãos abertas recebem PRESENTES, e só uma pessoa especial recebe mensagens minhas. Feliz Natal!!!
Pa Antigamente o Natal deseja-se um dia antes no máximo, mas eu inventei “feliz natal uma semana” “E eles” enaaaa Pa” depois inventei “feliz ANO NOVO 2 semanas antes” e o pessoal hè pa cum catano!” E eu “vai Buscari” foi quando todos perceberam que esta sms era só para amigos fixes, mas hé pa mesmo fixes … disseram he pa nao mexas mais e eu “pudera” Um santo Natal e um feliz ano Novo!!!

quinta-feira, maio 22, 2008

CORPUS CHISTI

CORPUS CHRISTI

http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=2502313080295330172 http://jorgedoxumkare.gigafoto.com.br/
http://jorgedoxumkare.spaces.live.com/http://jorgedoxumhttp://jorgedoxum-ileaxekareeleye.blogspot.com/-
Existe no decorrer do ano, diversas datas que são definidas como feriado, seja, municipal, estadual ou nacional. Geralmente, um feriado sempre é bem vindo; para muitos sinônimo de folga no trabalho e diversão. Mas, há uma questão muito séria que encontra-se por trás de alguns destes feriados, são "dias santos", por conseqüência consagrado há alguma entidade venerada por multidões; estes feriados é uma forma de devotar louvor ou veneração a personagens declarados como "santos" (1Co 10.19,20).Irmãos queridos somos chamados a uma vida santa (separada) e compromissados com as verdades de Deus que estão expressas de forma clara na Bíblia; o Espírito Santo move e faz-nos ver que é incompatível com a fé verdadeira participar destas consagrações tradicionais em algumas cidades. E, na condição de separados que somos, é sábio declararmos diante das trevas que anulamos em nome de Jesus Cristo, todo poder e autoridade constituída pelos homens às forças espirituais contra nossas vidas. O passo seguinte é procurarmos viver um dia, de muita vigilância e consagração ao Senhor (Mt 26.41), para que não sejamos atingidos pelo inimigo.Corpus Christi é uma festa ao Corpo de Cristo. É uma data adotada na Igreja Católica, para comemorar a presença real de Jesus Cristo no sacramento da Eucaristia, pela mudança da substância do pão e do vinho na de seu corpo e de seu sangue (O Catolicismo declara que a hóstia, torna-se literalmente em Carne e Sangue do Senhor Jesus). Como iniciou-se esta comemoração:A origem da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo remonta ao século XII. A Igreja sentiu necessidade de realçar a presença real do "Cristo todo" no pão consagrado. Esta necessidade se aliava ao desejo do homem medieval de "contemplar" as coisas. Surgiu nesta época o costume de elevar a hóstia depois da consagração. Disseminava-se uma controvertida piedade eucarística, chegando ao ponto das pessoas irem à igreja mais "verem" a hóstia do que para participarem efetivamente da eucaristiaA Festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV com a Bula ‘Transiturus’ de 11 de agosto de 1264, para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes. O Papa Urbano IV foi o que recebeu o segredo das visões da freira agostiniana, Juliana de Mont Cornillon, que exigiam uma festa da Eucaristia no Ano Litúrgico.Juliana nasceu em Liège em 1192 e participava da paróquia Saint Martin. Com 14 anos, em 1206, entrou para o convento das agostinianas. Com 17 anos, em 1209, começou a ter ‘visões’,(que retratavam um disco lunar dentro do qual havia uma parte escura. Isto foi interpretado como sendo uma ausência de uma festa eucarística no calendário litúrgico para agradecer o sacramento da Eucaristia). Com 38 anos, em 1230, confidenciou esse segredo ao arcediago de Liège, que 31 anos depois, por três anos, será o Papa Urbano IV (1261-1264), e tornará mundial a Festa de Corpus Christi, pouco antes de morrer.A ‘Fête Dieu’ começou na paróquia de Saint Martin em Liège, em 1230, com autorização do arcediago para procissão eucarística só dentro da igreja, a fim de proclamar a gratidão a Deus pelo benefício da Eucaristia. Em 1247, aconteceu a 1ª procissão eucarística pelas ruas de Liège, já como festa da diocese. Depois se tornou festa nacional na Bélgica.A festa mundial de Corpus Christi foi decretada em 1264, 6 anos após a morte de irmã Juliana em 1258, com 66 anos. Santa Juliana de Mont Cornillon foi canonizada em 1599 pelo Papa Clemente VIII.O decreto de Urbano IV teve pouca repercussão, porque o Papa morreu em seguida. Mas se propagou por algumas igrejas, como na diocese de Colônia na Alemanha, onde Corpus Christi é celebrada antes de 1270. Corpus Christi tomou seu caráter universal definitivo, 50 anos depois de Urbano IV, a partir do século XIV, quando o Papa Clemente V, em 1313, confirmou a Bula de Urbano IV nas Constituições Clementinas do Corpus Júris, tornando a Festa da Eucaristia um dever canônico mundial. Em 1317, o Papa João XXII publicou esse Corpus Júris com o dever de levar a Eucaristia em procissão pelas vias públicas.O Concílio de Trento (1545-1563), por causa dos protestantes, da Reforma de Lutero, dos que negavam a presença real de Cristo na Eucaristia, fortaleceu o decreto da instituição da Festa de Corpus Christi, obrigando o clero a realizar a Procissão Eucarística pelas ruas da cidade, como ação de graças pelo dom supremo da Eucaristia e como manifestação pública da fé na presença real de Cristo na Eucaristia.Em 1983, o novo Código de Direito Canônico – cânon 944 – mantém a obrigação de se manifestar ‘o testemunho público de veneração para com a Santíssima Eucaristia’ e ‘onde for possível, haja procissão pelas vias públicas’, mas os bispos escolham a melhor maneira de fazer isso, garantindo a participação do povo e a dignidade da manifestação.A Eucaristia é um dos sete sacramentos e foi instituído na Última Ceia, quando Jesus disse :‘Este é o meu corpo...isto é o meu sangue... fazei isto em memória de mim’. Porque a Eucaristia foi celebrada pela 1ª vez na Quinta-Feira Santa, Corpus Christi se celebra sempre numa quinta-feira após o domingo depois de Pentecostes.Alguns ilês praticam neste período o chamado de Lorogum, palavra iorubá que significa fofoca. "Se fôssemos traduzir o que a palavra quer dizer ao pé da letra, seria o tempo em que as casas devem fechar em sinal de respeito, até para não ter muita falação, muita história".O tempo de parada não é igual para todas as casas, isso vai depender de cada terreiro, de cada calendário litúrgico e de cada nação cultuada, mas varia entre 12 e 15 dias. Alguns deverão reiniciar as atividades em maio, quando será celebrado o Corpus Christi, inclusive por conta de um processo histórico, já que no passado essa era uma data de grande festa no catolicismo e os negros aproveitavam para festejar com mais liberdade suas divindades. Lorogum é realmente a expressão do respeito pelo catolicismo, pois quem é adepto do candomblé também é, de certa forma, praticante da religião católica, embora o candomblé não cultue imagens, muito menos as católicas, mas os símbolos da natureza, como as pedras."Apesar de todo o preconceito que ainda possuem contra nossa religião, atualmente já podemos ter essa proximidade, pois já aceitam, por exemplo, que a gente lave as escadarias da Catedral de Aracaju no dia de Oxum, comemorado em 8 de dezembro". Apesar de resistente ao tempo, tanto o Lorogum quanto a Quaresma estão perdendo as características. Há alguns anos, tudo o que havia dentro do quarto de santo (no candomblé) era coberto com lençol ou pano de cor branca, enquanto nas igrejas católicas todas as imagens de santos eram encobertas com panos de cor roxa. "Hoje já não se vê mais isto, mas continuamos com o mesmo respeito". Os dados históricos foram colhidos em sites Católicos, facilmente encontráveis na rede.

terça-feira, maio 06, 2008

MANUAL DO YAO - OBEABA DO BOM FILHO DE SANTO.


Tudo aquilo que nosso Orixá rejeita por qualquer motivo peculiar, que por vezes desconhecemos. Existem quizilas da própria Nação e as de Cada Orixá. Seguindo este preceito, só dependerá de você ter uma vida melhor consigo mesmo e com os de mais que lhe rodeia.

As principais são



Manual do bom Yaô
O BÊ-A-BÁ DO BOM FILHO DE SANTO



O Yawo ao chegar ao barracão, o procedimento correto é: a) Amarrar um pano no peito (mulheres) ou na cintura (homens); b) Ir direto para a cozinha beber um copo d’água para esfriar o corpo da rua, sem fazer paradas, não falar com ninguém para bater-papo e colocar a fofoca em dia; c) Tomar seu banho e ir trocar de roupa; d) Bater cabeça no axé, na porta do quarto de santo e pro pai de santo; e) Tomar a benção a TODOS os seus irmãos, sendo mais velhos e mais novos, de acordo com a ordem iniciática. Agora sim, caso não haja nada em que se possa ajudar (muito embora seja impossível, pois em uma casa de santo sempre tem algo a ser feito), depois pode ir colocar seu tricô em dia.





O Yawo se dormir no Terreiro deve levantar antes do sol nascer ou junto com o nascer do sol.



O Yawo ao levantar não deve falar com ninguém, deve antes lavar seu rosto e boca, isso é para apagar os vestígios ou traços espirituais que eventualmente tivesse vindo rondá-lo durante a noite a fim de colher nos seus lábios o mingau das almas numa possível alimentação.








O Yawo não deve falar mal e nem dar ouvidos aos que ensaie uma conversa contra a casa de santo ou seus sacerdotes e sim enaltecer para agradar as forças de sua fonte.



O Yawo não deve ocultar coisas que venha trazer prejuízo para a casa de Santo, deve expor o fato em tom normal sem demonstração de disse-me-disse.




O Yawo não de ouvir maldade e sim enaltecer sua casa.



O Yawo não deve fumar na frente de Seu Zelador, e dos mas velhos que visite sua casa.


O Yawo nunca fica de pé em frente ao Pai de Santo e sim agachado, com a cabeça baixa.



O Yawo nunca interrompe o Zelador quando estiver conversando com alguém. Quando tiver visita no barracão (egbomis, ekedes, ogãs, zeladores), seja em dia de festa ou em dia corriqueiro, é de bom-tom que os filhos se abaixem próximo a ele para dirigir a palavra. Ai então disser AGÔ (Licença) e esperar ele dizer AGÔ YA. E de cabeça baixa, falar com ele em tom de voz baixa.



O Yawo não deve se portar de maneira desairosa no terreiro, por que do seu comportamento decorre a divulgação e o bom nome da casa.



O Yawo não deve falar mal da casa de santo (nem sua nem dos outros) e nem de seus componentes, isso provocaria a irá do ORIXA e trás a certeza de um pagamento futuro, a EXU a EGUN e as forças da natureza.





O Yawo não deve passar pelo seu pai de santo com a cabeça erguida, e sim um pouco curvado para frente.



O yawo só pode sentar em Apoti (Banquinho) mediante a autorização do seu Zelador. (Somente raspados podem sentar em apoti)



O Yawo não deve deixar dormir roupa em corda (pois Eguns a noite faz dela sua morada)



O Yawo não deve sentar em soleira de porta.




O Yawo não deve passar embaixo de corda que tenha roupa intima, roupa de baixo, mesmo que estas sejam suas.












Yawo não passa embaixo de escada.




O Yawo não deve pegar sou de Meio-dia, mesmo com cabeça coberta.




O Yawo não deve varrer a casa dos fundos para frente e sim da frente para os fundos.




O Yawo não deve verter (Urinar) ou defecar, em rios, lagos, dentro de d’água, poço ou cachoeira (locais Sagrados).





O Yawo não deve defecar em mato, em cima de plantas votivas.




O yawo não deve cuspir em água de espécie alguma.








O Yawo deve esta com seu contra-egun toda vez que for ao barracão.

O Yawo deve sempre esta com O Ojá ( pano de cabeça) em sua cabeça.




O Yawo não deve entrar em cemitério, só em casos muito especiais, assim mesmo com a cabeça coberta. E somente com a permissão de seu Zelador.



O Yawo não deve entrar em Igreja, hospital, matadouro, etc, só em casos especiais, assim mesmo com a cabeça coberta. Somente com a permissão de seu Zelador.



O Yawo não deve ir a praia (Banho de Mar – areia, calçada, beira de praia, beira de mar, casa de praia), sem ter suas obrigações em dia. E somente com a permissão de seu Zelador.




O Yawo não carrega embrulho na cabeça.




O Yawo não deve ser descortês, nem mesmo entre os irmãos do terreiro e com visitantes, e sim bastante paciente e educado.



O yawo não deve impor seus desejos, nem mesmo entre os irmão de barco, seus desejos ou vontades serão discutidos.




O yawo não deve faltar com educação e cortesia para com todos aqueles que nos batem a porta, seja ele conhecido ou não.



O Yawo não deve tornar publico as coisas que delas participarem em caráter de segredo na casa de santo.




O Yawo não deve menosprezar os outros e nem se colocar em falso pedestal de auto suficiente, e sim ser humilde.




O YAWO nunca, jamais, em tempo ou hipótese alguma, seja no seu barracão ou no barracão do alheio, deve-se sentar na mesma altura que o seu pai de santo. Ele já passou por vários sacrifícios para estar sentado confortavelmente ali. Você ainda está no meio do caminho. Portanto, pra que querer sentar aonde você não alcança? Mesmo que o dono da casa chame , cabe a voce recusar




Yawo e abian não bebem nenhum líquido em copo de vidro dentro de seu barracão ou no barracão do alheio. Deve-se esperar o bom e velho copinho de plástico ou então a conhecida DILONGA, BAN ou CANEQUINHA DE ÁGHATA, como você preferir chamar. Copo de vidro só quem tem direito é egbomi, ekede, ogan e zelador.




Yawo e abian não comem em prato de vidro ou louça. Apenas em pratinho de plástico ou ágata. Aliás, devemos lembrar que é de boa educação cada filho trazer seu devido pratinho de ágata e sua devida canequinha para seu uso pessoal no barracão. Ah! Garfo? Nem pensar! Colher. Somente ela. Garfo, só com sete anos de santo feito, ou então sendo ekede, ogã, zelador...



Terminou seu ajeum? Pegue seu pratinho e sua canequinha, Pegue seu pratinho e sua canequinha, Não cai a mão e nem coça, sabia? Infelizmente ainda não possuímos uma empregada que possa cuidar da limpeza geral enquanto nós descansamos.




Como dissemos no item anterior, não temos uma empregada para limpar tudo. Portanto, cada um deve se conscientizar e fazer a sua parte. Ficar protelando, esperando que algum irmão de santo se encha da bagunça e vá arrumar por você não tem cabimento. Cada um fazendo um pouco fica mais fácil e rápido.





Resolveu visitar o pai de santo? Que maravilha! Ele adorará sua visita, ainda mais se você vier com uma modesta colaboração para o ajeum, pois como é do conhecimento de todos, o pai de santo não tem obrigação de alimentar todo mundo. Madre Teresa de Calcutá já morreu, e definitivamente, ela não vira na cabeça do pai de santo.



Você trabalhou feito a escrava Isaura e se cansou? Acabou de fazer todo o serviço? Bem, agora você pode pegar o seu maravilhoso APOTÍ e confortavelmente sentar-se nele. Como dissemos no item 5, cadeiras, sendo com ou sem braço, só ebomis, ekedes, ogãs ou zeladores que podem sentar. Existe uma variável do APOTI¹, que é a famosa ESTEIRA. Nela você pode se sentar, se espichar e até relaxar seus ossos.



Em sua casa, quando você faz uma comemoração qualquer e é servida uma refeição, você sai atacando o ajeum na frente de seus convidados? Acreditamos que não, né? Portanto, na casa de santo é igual. Antes os mais velhos devem se servir, pra só depois os abians e yawos se servirem. Isso é mais que uma regra é etiqueta. E você não vai querer ser um deselegante, não é? Lembre-se: Estão sempre observando você...



As emprestadas? Pois é, o pai de santo também não gosta. Portanto, que tal comprar um belíssimo tecido de lençol e fazer uma baiana de ração básica pro dia-a-dia? Não sai caro e fica uma gracinha. E você finalmente pára de pegar a roupa do alheio emprestado. Não é maravilhoso? Todos na casa contentes e felizes com suas devidas roupas.





Quem traz dinheiro para o sustento da casa? Você é que não é. Portanto, trate muitos bem os clientes que vão para jogar ou se consultar, pois é deles que vem boa parte do dinheiro dali. Sorrir sempre e servir um copinho de café ou de água gelada não matam ninguém. Que tal tentar?





E vai rolar a festa! O povo do kétu, do jeje, da angola e até da umbanda já mandou avisar e convidar. Mas, e o dinheiro para comprar o ajeum e o otí do povo? Com certeza o Carrefour não irá mandar as coisas de graça para o barracão, nem o Mercadão de Madureira tão pouco irá dar os bichos e todo o material restante. Portanto, que tal se todos coçassem o bolso um pouco e ajudassem?



Você acha que só por este local ser uma casa de santo, a Light, a CEG e a CEDAE irão fornecer água, luz e gás de graça? É claro que não. Portanto, contribua sempre com a sua módica mensalidade. Economizar um pouco na Skol e no cigarro no final de semana já irá ajudar muito no barracão.




O mundo está em guerra, existe muita gente por aí passando fome. Portanto, por que desperdiçar comida? Fazer a quantidade exata só para quem trabalhou dignamente e contribuiu com este maravilhoso ajeum é o coerente, pois você não está no programa da Ana Maria Braga para comer de graça. Por falar em Ana Maria Braga, lembre-se que você não é o Louro José para dar palpites no barracão. Se você tem alguma sugestão, leve-a antes ao pai de santo. Espalhar a corrupção sobre a Terra era coisa da novela Mexicana.





Ficou cansado depois da festa? Nada de ir pegando sua bolsa e ir saindo de fininho. Lembre-se da limpeza do barracão.





Roda de candomblé, seja em sua casa ou na casa do alheio, não é lugar de ficar de cochicho e risinhos irônicos e não tão pouco paquerando.. Se você quer fuxicar, vá para um botequim.




Anágua encardida, só se for depois da festa do candomblé. Antes, NUNCA, JAMAIS, NEM PENSAR! Devem ser brancas como a neve, salve anágua de ráfia ou entretela.




Você, irmãozinho, que vê o mundo cor de rosa-choque com bolinhas amarelas, deve deixar esta sua visão progressiva e moderna do lado de fora do barracão. Ali dentro você tem que ver tudo branco. O mesmo vale para as coleguinhas que vêem tudo azulzinho. Casa de orixá é para louvar e cuidar do Orixá, e não para arrumar casório.



Vai rolar um churrasquinho de gato na casa do seu coleguinha no meio da semana, no mesmo dia de função do barracão? Então, peça para ele guardar uma garrinha de carne para você e venha cumprir suas obrigações junto a seus irmãos.

Se sua irmã de santo tem uma baiana mais humilde do que a sua, nada de ficar xoxando. Lembre-se, o mundo dá voltas e o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Amanhã pode ser você com uma baiana de chita e ela com uma belíssima saia de rechilieu.



Caso assista fora do seu barracão a algo diferente do que ocorre em sua casa, nada de ficar xoxando e chamando de marmoteiro. Você não é o dono da verdade e nem ninguém o é. O que pode parecer maluquice pra você, pode não ser pro próximo. Não é errado, é diferente de sua casa. Além do mais, comentários sempre são feitos depois. Vai que tem alguém conhecido escutando?



Ninguém tem mais ou menos santo que ninguém. Isso é regra. Sempre.






Respeito é bom e conserva os dentes. Portanto, deve-se pensar duas vezes antes de envolver o pai de santo e irmãos mais velhos em determinadas brincadeiras de mau-gosto. Apelidos e avacalhações são da porta do barracão pra fora. Além do mais, a próxima vítima pode ser você.



Roupa de barracão é saia comprida, camisú e pano da costa. Shortinhos e top’s devem ser usados somente pra ir ao baile funk.





Sempre que for servir algum mais velho de santo, deve-se levar o pedido numa bandeja ou prato e abaixar-se para servir. Sempre que for servir algum mais velho de santo, deve-se levar o pedido numa bandeja ou prato e abaixar-se para servir.


Benção foi feita para ser trocada. Sempre que você pede a benção, você está na realidade pedindo a bênção ao Orixá da pessoa, e não a ela própria. Portanto, todos devem trocar a benção, mais velhos com mais novos e vice-versa.




Quando você estiver em uma roda de pessoas dentro da sua casa de santo ou de outro barracão qualquer, abaixe o seu ori e peça a benção até o periquito que estiver chegando, você não sabe quem é ele e ele pode ser bem mais velho que você, um tio de santo ou qualquer outro egbomi, é preferível você pedir a benção a alguém mais novo do que errar passando por cima dos mais velhos.

Lembre –se que para nosso Zelador (a) seremos sempre YAO.(Como para nossa Mãe carnal, seremos sempre crianças).




quarta-feira, abril 16, 2008

MÃO DE VUME - A MORTE DO PAI-DE-SANTO

Morte do Pai-de-Santo: implicações e dificuldades para a
continuidade dos terreiros de candomblé
"A morte é, sem dúvida, para todos os grupos e para todas as sociedades, um evento desestruturante. Não só pela perda das pessoas queridas mas também porque deixa vago, na estrutura familiar, social, grupal etc., um espaço nem sempre preenchível, principalmente em termos da relação particular do indivíduo que morre com os outros. Ainda que seu "lugar" venha a ser ocupado por algum "substituto", o conteúdo das relações nem sempre - ou quase nunca - pode permanecer inalterado. Para o candomblé, a morte pode ser bastante mais complexa, especialmente quando se trata da morte de um chefe de terreiro . As várias mortes de pais-de-santo ocorridas recentemente e levantam algumas questões sobre esta problemática que devem ser discutidas e eu gostaria de dar um primeiro impulso a esta discussão.
O primeiro problema diz respeito às questões rituais. No candomblé acredita-se que o morto, quando ainda recentemente falecido, pode causar perturbações aos vivos, seja porque se sente ainda ligado aos que amou, seja porque deseja ser ajudado a desvencilhar-se dos vínculos com o mundo material. Há também a questão de que o orixá que foi assentado na cabeça do iniciado falecido (e em representações materiais), deve ser "libertado" para que possa retornar à "energia natural" da qual, na forma de um orixá particular, era apenas um avatar, uma "qualidade", uma fração. Por este motivo é realizado o ritual denominado axexê, ou cirrum, que visa "despachar o egun", isto é, libertar os espírito das relações com o mundo dos vivos e "encaminhá-lo" ao mundo dos mortos, livrando também o orixá.
A maioria dos adeptos do candomblé não sabe explicar, contudo, o que seja este "mundo dos mortos". Muitos dizem mesmo que depois da morte não existe nada. "Morreu, morreu. Acabou". Este desconhecimento, e também um certo "desinteresse" pelo que se passaria no pós-morte leva o povo-de-santo a pelo menos duas diferentes atitudes:

1 - A morte e o morto são entregues à religião hegemônica, no caso o catolicismo, que se encarrega de ritualizá-la através do enterro católico, orações, missa de sétimo dia etc. Quando se trata de um iaô, os assentamentos costumam ser simplesmente "despachados" (geralmente jogados num rio ou num cemitério) com cerimônias menores;
2 - É realizado o axexê, a cerimônia funeral do candomblé, dedicada em geral apenas aos ebomis que têm filhos-de-santo. Neste caso o ritual se torna imprescindível e é exigido tanto pelas famílias-de-santo quanto pela comunidade do povo-de-santo em geral. Estabelece-se assim uma diferenciação das pessoas também diante da morte causando um certo estranhamento o fato de iniciados não-ebomis não necessitarem do axexê para libertarem seus orixás e seus vínculos com a família-de-santo. Mas existem razões para que as coisas se passem assim.

A realização do axexê, uma grande e trabalhosa cerimônia, tem sido reservada apenas para chefes de terreiro não só pela grande quantidade de vínculos (com seu pai-de-santo, seus irmãos-de-santo, filhos-de-santo, netos-de-santo, sua família carnal etc.) que estes mantêm mas também pelos grandes obstáculos que devem ser vencidos antes de sua efetuação. Um deles é a falta de sacerdotes com conhecimento suficiente para realizar o axexê. Sendo uma religião mágica, o processo ritual, os detalhes, as "fórmulas" mágicas são sempre motivo de extremado cuidado, medo e desconfiança. Qualquer mínimo erro, descuido ou engano pode ser a fonte de grandes desgostos e problemas. Principalmente quando se lida com o absoluto desconhecido que é a morte.
Assim, poucos são os sacerdotes que se "arriscam" a realizar o axexê, preferindo entregá-lo aos mais antigos sacerdotes ( QUE EU ACHO CERTO ), mesmo pagando um alto preço por seus serviços religiosos. Como a realização desta cerimônia tem se revelado bastante lucrativa, aqueles que a conhecem profundamente têm evitado ensiná-las até mesmo aos seus próprios filhos-de-santo mantendo, desse modo, o "monopólio" do conhecimento religioso. Os especialistas em axexê, cobram em média 1000 dólares para realizá-lo. E não é fácil, para os grupos de filhos dos terreiros, conseguir este dinheiro e até mesmo superar questões como "quem vai realizar o axexê, de que modo, quando, por quanto etc.", pois a morte do chefe de um terreiro gera situações gravemente desestruturantes.
Estas situações chegam mesmo a colocar em risco a continuidade da casa-de-santo, pois surgem muitas dúvidas: quem seria o sacerdote mais indicado para realizar o axexê? Quem será o novo ou nova chefe do terreiro? A casa continuará e o indivíduo permanecerá nela, ou fechará (o que é mais comum) e o filho de santo precisará ser adotado por outra casa, devendo, neste caso, reestruturar toda sua vida religiosa?. Caso a casa seja extinta, quem adotará os filhos-de-santo do morto, cuidando de seus orixás? Muita gente, especialmente ogãs e ekedes, fica sem rumo, sem saber o que fazer de sua vida religiosa:
. Agora que ele morreu, o que é que eu faço? Pra que terreiro eu vou? Vou como ekede? Mas de quem? Mas não foi ela que me suspendeu!

Além do axexê, que rompe os laços do homem com o orixá e com o mundo dos vivos é preciso ainda que o filho-de-santo rompa seu laço individual com o morto, através da cerimônia de "tirar a mão de vume", que consiste em apagar a marca do pai-de-santo na cabeça do filho, impondo-lhe outra, nova, de um novo pai ou mãe-de-santo. Mas antes de qualquer outra coisa é preciso realizar o axexê do pai-de-santo, sem o qual todos os outros procedimentos ficam impedidos. Para tanto, é preciso que haja, imediatamente após a morte do chefe da casa, a cotização da família-de-santo para financiar a cerimônia do axexê. Sendo uma soma tão alta (especialmente para o povo-de-santo, formado por gente pobre em sua maior parte), essa cotização pode desestruturar a vida financeira dos filhos, que precisam contribuir para que se consiga pagar o sacerdote que realizará a cerimônia e para a compra do material necessário, também bastante caro, quase outros mil dólares. Muitas vezes os filhos-de-santo recorrem a estranhos, clientes do pai-de-santo, vendem móveis, objetos e outras coisas do terreiro, pedem às lojas de artigos religiosos onde o pai-de-santo comprava material para sua casa que forneçam pelo menos parte do material, fazem listas, rifas etc. Tudo isto tem que ser feito em prazo muito curto e nem sempre é possível realizar o axexê no devido tempo. E os "especialistas" não costumam baixar seus preços. Na melhor das hipóteses podem parcelar em duas vezes seus honorários. Muitas vezes nem mesmo permitem que os interessados comprem o material do ritual (encarregando-se eles próprios disto), temendo que o fornecimento da lista seja um primeiro passo para a quebra do "segredo".
Vê-se que um problema gera outro. A falta de sacerdotes que conheçam o ritual (poucas vezes ensinados, sejamos justos) cria um monopólio de "conhecedores" bastante restrito que, por sua vez põem um preço altíssimo em seus serviços, criando dificuldades econômicas que poucas vezes podem ser superadas a contento pelos filhos-de-santo. Com isso, realizam-se cada vez menos axexês e tais especialistas correm o risco de, a médio prazo, verem seus serviços se tornarem desnecessários com a extinção desse rito no candomblé, o que parece já estar acontecendo. Talvez estes "conhecedores", "especialistas", não tenham quem "bata " seu próprio axexê por falta de quem possa fazê-lo.
Suponhamos, para continuar nosso assunto, que o terreiro consiga passar pelas dificuldades do axexê. Que consiga realizá-lo . Surge então um outro problema: a sucessão da chefia da casa de candomblé. As sucessões são geralmente bastante conflituosas, pois teoricamente vários são os candidatos a ela, mais ainda se a casa tem muitos ebomis. Na maioria das vezes existem ainda os descendentes carnais também iniciados que se julgam herdeiros preferenciais. Como a resolução passa pela consulta ao oráculo dos búzios e esta só pode ser feita depois de realizado o axexê, arma-se uma rede de problemas pois o tempo passa, os conflitos se definem em facções, acirram-se e muita gente abandona o terreiro ou briga ferozmente por sua continuidade que passa a ser, então, muito questionada em função dos conflitos gerados pela morte do líder da casa. Intromissões de gente de outros terreiros, ligada por vínculos do parentesco religioso também é bastante comum.
Existe ainda a questão legal. Muitos pais e mães-de-santo paulistas, para usá-los como exemplo, são pessoas solteiras e sem filhos, portanto sem herdeiros diretos. Com a morte, seus bens (inclusive o terreno e o prédio onde se instala o terreiro, se este é de sua propriedade) entram no inventário obrigatório para que seja efetuada a partilha de bens entre os herdeiros legais como o pai, a mãe, irmãos, sobrinhos etc. Como os chefes de terreiro costumam manter a propriedade em seu nome (apesar de manterem os registros dos terreiros como sociedades civis), mais um problema se põe para a continuidade do terreiro. Porque geralmente os familiares que não fazem parte do candomblé desejam vender o imóvel, dando fim, desse modo, ao terreiro. É praticamente impossível ultrapassar este obstáculo.
Penso que o crescimento do candomblé obriga a pensar mais detidamente tais questões. Os sacerdotes que conhecem o axexê não poderiam (ou deveriam) pensar em ensiná-lo a seus filhos e outros interessados? Não poderiam diminuir sua ganância cobrando menos ou então de acordo com as reais possibilidades de custeio dos filhos de uma casa? Os chefes de terreiro não poderiam indicar em vida seus possíveis sucessores? Não poderiam registrar o imóvel de uso religioso como bem da Associação, a fim de retirá-lo do alcance de herdeiros não envolvidos com a religião, garantindo dessa forma, minimamente, a continuidade de algo por que tanto lutou e viveu? Apresento ainda mais uma questão: qual o papel das Federações de candomblé nestes momentos, cruciais para os terreiros? Elas não poderiam minorar os problemas se mantivessem sacerdotes conhecedores do rito do axexê dispostos a realizar estas cerimônias, se não gratuitamente, pelo menos por preços mais acessíveis? Para que servem estas Federações? Qual seu papel junto ao candomblé e aos candomblés. De que modo aplicam os recursos que têm?

quinta-feira, fevereiro 21, 2008



As Aparências Enganam
Elis Regina
Composição: Sérgio Natureza/Tunai

As aparências enganam,
aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões
Os corações pegam fogo e depois não há nada que os apague
se a combustão os persegue, as labaredas e as brasas são
O alimento, o veneno e o pão, o vinho seco, a recordação
Dos tempos idos de comunhão, sonhos vividos de conviver

As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio se irmanam na geleira das paixões
Os corações viram gelo e, depois, não há nada que os degele
Se a neve, cobrindo a pele, vai esfriando por dentro o ser
Não há mais forma de se aquecer, não há mais tempo de se esquentar
Não há mais nada pra se fazer, senão chorar sob o cobertor

As aparências enganam, aos que gelam e aos que inflamam
Porque o fogo e o gelo se irmanam no outono das paixões
Os corações cortam lenha e, depois, se preparam pra outro inverno
Mas o verão que os unira, ainda, vive e transpira ali
Nos corpos juntos na lareira, na reticente primavera
No insistente perfume de alguma coisa chamada amor.


JORGE:
Aos Nossos Filhos

Elis Regina

Composição: Ivan Lins/Vitor Martins

Perdoem a cara amarrada,

Perdoem a falta de abraço,

Perdoem a falta de espaço,

Os dias eram assim...

Perdoem por tantos perigos,

Perdoem a falta de abrigo,

Perdoem a falta de amigos,

Os dias eram assim...

Perdoem a falta de folhas,

Perdoem a falta de ar

Perdoem a falta de escolha,

Os dias eram assim...


E quando passarem a limpo,

E quando cortarem os laços,

E quando soltarem os cintos,

Façam a festa por mim...


E quando lavarem a mágoa,

E quando lavarem a alma

E quando lavarem a água,

Lavem os olhos por mim...


Quando brotarem as flores,

Quando crescerem as matas,

Quando colherem os frutos,

Digam o gosto pra mim...

Digam o gosto pra mim...

MAPA DOS ODUS




No momento em que um recém-nascido respira pela primeira vez, todas as energias do universo material e imaterial se ligam ao seu corpo. . Nessa hora, a pessoa tem traçado o seu odu termo que, no Candomblé, significa caminho ou destino. E cada pessoa tem cinco odus; quatro referentes à sua vida material e um referente ao seu caminho espiritual. O jogo de búzios é a forma ritual, sagrada, de descobrir os odus de uma pessoa. Não significa que seja o Orixa da pessoas.De um modo ou de outro, esse conhecimento é muito importante,os odus sintetizam o potencial de cada indivíduo, Através de um Mapa de nascimento é possível determinar suas áreas de conflito e as suas DIFICULDADES pessoais, seus talentos e suas limitações. Conhecendo-os, podemos lidar melhor com eles e viver bem. . Aprenderá como essas forças da Natureza agem sobre você e como você reage no mundo que o cerca. E, o mais importante, é que essas forças da Natureza, não são fixos, não são energias estáticas, não pode ser trocado, mas pode ser lapidado. Essas dificuldades podem estar relacionadas a quaisquer aspectos do seu dia a dia, seja na área de RELACIONAMENTOS, na SAÚDE, nas VONTADES próprias, no AMOR, no EQUILÍBRIO INTERIOR interior, na SEXUALIDADE, na PERSONALIDADE e até nos COMPLEXOS diversos.
Solicite maiores informações sobre a sua CABALA PESSOAL DOS ODUNS e os processos de como melhorar em seu próprio benefício,
com o objetivo de ter uma vida de mais harmonia e de paz. Qualquer duvida : jorgedoxumkare@hotmail.com


quarta-feira, fevereiro 20, 2008


O Tempo da Quaresma
O que quer dizer Quaresma?
A palavra Quaresma vem do Latim quadragésima e é utilizada para designar o período de quarenta dias que antecedem a festa ápice do cristianismo: a Ressurreição de Jesus Cristo, comemorada no famoso Domingo de Páscoa. Esta prática data desde o século IV.
Na Quaresma, que começa na quarta-feira de cinzas e termina na quarta-feira da Semana Santa, os católicos realizam a preparação para a Páscoa. O período é reservado para a reflexão, a conversão espiritual. Ou seja, o católico deve se aproximar de Deus visando o crescimento espiritual. Os fiéis são convidados a fazerem uma comparação entre suas vidas e a mensagem cristã expressa nos Evangelhos. Esta comparação significa um recomeço, um renascimento para as questões espirituais e de crescimento pessoal. O cristão deve intensificar a prática dos princípios essenciais de sua fé com o objetivo de ser uma pessoa melhor e proporcionar o bem para os demais.
Essencialmente, o período é um retiro espiritual voltado à reflexão, onde os cristãos se recolhem em oração e penitência para preparar o espírito para a acolhida do Cristo Vivo, Ressuscitado no Domingo de Páscoa. Assim, retomando questões espirituais, simbolicamente o cristão está renascendo, como Cristo. Todas as religiões têm períodos voltados à reflexão, eles fazem parte da disciplina religiosa. Cada doutrina religiosa tem seu calendário específico para seguir. A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência.
Cerca de duzentos anos após o nascimento de Cristo, os cristãos começaram a preparar a festa da Páscoa com três dias de oração, meditação e jejum. Por volta do ano 350 d. C., a Igreja aumentou o tempo de preparação para quarenta dias. Assim surgiu a Quaresma.
Qual o significado destes 40 dias?
Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material. Os zeros que o seguem significam o tempo de nossa vida na terra, suas provações e dificuldades. Portanto, a duração da Quaresma está baseada no símbolo deste número na Bíblia. Nela, é relatada as passagens dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou a estada dos judeus no Egito, entre outras. Esses períodos vêm sempre antes de fatos importantes e se relacionam com a necessidade de ir criando um clima adequado e dirigindo o coração para algo que vai acontecer.
O que os cristãos devem fazer no tempo de Quaresma?
A Igreja católica propõe, por meio do Evangelho proclamado na quarta-feira de cinzas, três grandes linhas de ação: a oração, a penitência e a caridade. Não somente durante a Quaresma, mas em todos os dias de sua vida, o cristão deve buscar o Reino de Deus, ou seja, lutar para que exista justiça, a paz e o amor em toda a humanidade. Os cristãos devem então recolher-se para a reflexão para se aproximar de Deus. Esta busca inclui a oração, a penitência e a caridade, esta última como uma conseqüência da penitência.
Ainda é costume jejuar durante este tempo?
Sim, ainda é costume jejuar na Quaresma, ainda que ele seja válido em qualquer época do ano. A igreja propõe o jejum principalmente como forma de sacrifício, mas também como uma maneira de educar-se, de ir percebendo que, o que o ser humano mais necessita é de Deus. Desta forma se justifica as demais abstinências, elas têm a mesma função.
Oficialmente, o jejum deve ser feito pelos cristãos batizados, na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira santa. Pela lei da igreja, o jejum é obrigatório nesses dois dias para pessoas entre 18 e 60 anos. Porém, podem ser substituídos por outros dias na medida da necessidade individual de cada fiel, e também praticados por crianças e idosos de acordo com suas disponibilidades.
O jejum, assim como todas as penitências, é visto pela igreja como uma forma de educação no sentido de se privar de algo e reverte-lo em serviços de amor, em práticas de caridade. Os sacrifícios, que podem ser escolhidos livremente, por exemplo: um jovem deixa de mascar chicletes por um mês, e o valor que gastaria nos doces é usado para o bem de alguém necessitado.
O que é a Campanha da Fraternidade?
O percurso da Quaresma é acompanhado pela realização da Campanha da Fraternidade – a maior campanha da solidariedade do mundo cristão. Cada ano é contemplado um tema urgente e necessário.
A Campanha da Fraternidade é uma atividade ampla de evangelização que ajuda os cristãos e as pessoas de boa vontade a concretizarem, na prática, a transformação da sociedade a partir de um problema específico, que exige a participação de todos na sua solução. Ela tornou-se tão especial por provocar a renovação da vida da igreja e ao mesmo tempo resolver problemas reais.
Seus objetivos permanentes são: despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus, comprometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum; educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor: exigência central do Evangelho. Renovar a consciência da responsabilidade de todos na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e solidária.
Os temas escolhidos são sempre aspectos da realidade sócio-econômico-política do país, marcada pela injustiça, pela exclusão, por índices sempre mais altos de miséria. Os problemas que a Campanha visa ajudar a resolver, se encontram com a fraternidade ferida, e a fé, tem o compromisso de restabelecê-la. A partir do início dos encontros nacionais sobre a CF, em 1971, a escolha de seus temas vem tendo sempre mais ampla participação dos 16 Regionais da CNBB que recolhem sugestões das Dioceses e estas das paróquias e comunidades.
Como começou a Campanha da Fraternidade?
Em 1961, três padres responsáveis pela Cáritas Brasileira idealizaram uma campanha para arrecadar fundos para as atividades assistenciais e promocionais da instituição e torná-la autônoma financeiramente. A atividade foi chamada Campanha da Fraternidade e realizada pela primeira vez na quaresma de 1962, em Natal-RN, com adesão de outras três Dioceses e apoio financeiro dos Bispos norte-americanos. No ano seguinte, 16 Dioceses do Nordeste realizaram a campanha. Não teve êxito financeiro, mas foi o embrião de um projeto anual dos Organismos Nacionais da CNBB e das Igrejas Particulares no Brasil, realizado à luz e na perspectiva das Diretrizes Gerais da Ação Pastoral (Evangelizadora) da Igreja em nosso País.
Este projeto se tornou nacional no dia 26 de dezembro de 1963, com uma resolução do Concílio Vaticano II, a maior e mais importante reunião da igreja católica. O projeto realizou-se pela primeira vez na quaresma de 1964. Ao longo de quatro anos seguidos, por um período extenso em cada um, os Bispos ficaram hospedados na mesma casa, em Roma, participando das sessões do Concílio e de diversos momentos de reunião, estudo, troca de experiências. Nesse contexto, nasceu e cresceu a Campanha da Fraternidade.
Qual é a relação entre Campanha da Fraternidade e a Quaresma?
A Campanha da Fraternidade é um instrumento para desenvolver o espírito quaresmal de conversão e renovação interior a partir da realização da ação comunitária, que para os católicos, é a verdadeira penitência que Deus quer em preparação da Páscoa. Ela ajuda na tarefa de colocar em prática a caridade e ajuda ao próximo. É um modo criativo de concretizar o exercício pastoral de conjunto, visando a transformação das injustiças sociais.
Desta forma, a Campanha da Fraternidade é maneira que a Igreja no Brasil celebra a quaresma em preparação à Páscoa. Ela dá ao tempo quaresmal uma dimensão histórica, humana, encarnada e principalmente comprometida com as questões específicas de nosso povo, como atividade essencial ligada à Páscoa do Senhor.
Quais são os rituais e tradições associados com este tempo?
As celebrações têm início no Domingo de Ramos, ele significa a entrada triunfal de Jesus, o começo da Semana Santa. Os ramos simbolizam a vida do Senhor, ou seja, Domingo de Ramos é entrar na Semana Santa para relembrar aquele momento.
Depois, celebra-se a Ceia do Senhor, realizada na quinta-feira santa, conhecida também como o lava pés. Ela celebra Jesus criando a eucaristia, a entrega de Jesus e portanto, o resgate dos pecadores.
Depois, vem a celebração da Sexta-feira da Paixão, também conhecida como sexta-feira santa, que celebra a morte do Senhor, às 15 horas. Na sexta à noite geralmente é feita uma procissão ou ainda a Via Sacra, que seria a repetição das 14 passagens da vida de Jesus.
No sábado à noite, o Sábado de Aleluia, é celebrada a Vigília Pascal, também conhecida como a Missa do Fogo. Nela o Círio Pascal é acesso, resultando as cinzas. O significado das cinzas é que do pó viemos e para o pó voltaremos, sinal de conversão e de que nada somos sem Deus. Um símbolo da renovação de um ciclo. Os rituais se encerram no domingo, data da ressurreição de Cristo, com a Missa da Páscoa, que celebra o Cristo vivo.
Fonte: CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil Arquidiocese de São Paulo - Vicariato da Comunicação
O que é a quaresma
A quaresma é o tempo litúrgico de conversão, que a Igreja marca para nos preparar para a grande festa da Páscoa. É tempo para nos arrepender dos nossos pecados e de mudar algo de nós para sermos melhores e poder viver mais próximos de Cristo.
A Quaresma dura 40 dias; começa na Quarta-feira de Cinzas e termina no Domingo de Ramos. Ao longo deste tempo, sobretudo na liturgia do domingo, fazemos um esfoço para recuperar o ritmo e estilo de verdadeiros fiéis que devemos viver como filhos de Deus.
A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência. É um tempo de reflexão, de penitência, de conversão espiritual; tempo e preparação para o mistério pascal.
Na Quaresma, Cristo nos convida a mudar de vida. A Igreja nos convida a viver a Quaresma como um caminho a Jesus Cristo, escutando a Palavra de Deus, orando, compartilhando com o próximo e praticando boas obras. Nos convida a viver uma série de atitudes cristãs que nos ajudam a parecer mais com Jesus Cristo, já que por ação do pecado, nos afastamos mais de Deus.
Por isso, a Quaresma é o tempo do perdão e da reconciliação fraterna. Cada dia, durante a vida, devemos retirar de nossos corações o ódio, o rancor, a inveja, os zelos que se opõem a nosso amor a Deus e aos irmãos. Na Quaresma, aprendemos a conhecer e apreciar a Cruz de Jesus. Com isto aprendemos também a tomar nossa cruz com alegria para alcançar a glória da ressurreição.
40 dias
A duração da Quaresma está baseada no símbolo do número quarenta na Bíblia. Nesta, é falada dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias e Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou o exílio dos judeus no Egito.
Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material, seguido de zeros significa o tempo de nossa vida na terra, seguido de provações e dificuldades.
A prática da Quaresma data do século IV, quando se dá a tendência a constituí-la em tempo de penitência e de renovação para toda a Igreja, com a prática do jejum e da abstinência. Conservada com bastante vigor, ao menos em um princípio, nas Igrejas do oriente, a prática penitencial da Quaresma tem sido cada vez mais abrandada no ocidente, mas deve-se observar um espírito penitencial e de conversão.
Quaresma 2007de 21 de fevereiro até 31 de março
Quarta-feira de Cinzas
Com a imposição das cinzas, inicia-se uma estação espiritual particularmente relevante para todo cristão que quer se preparar dignamente para viver o Mistério Pascal, quer dizer, a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus.
Este tempo vigoroso do Ano litúrgico se caracteriza pela mensagem bíblica que pode ser resumida em uma palavra: " matanoeiete", que quer dizer "Convertei-vos". Este imperativo é proposto à mente dos fiéis mediante o austero rito da imposição das cinzas, o qual, com as palavras "Convertei-vos e crede no Evangelho" e com a expressão "Lembra-te de que és pó e para o pó voltarás", convida a todos a refletir sobre o dever da conversão, recordando a inexorável caducidade e efêmera fragilidade da vida humana, sujeita à morte.
A sugestiva cerimônia das cinzas eleva nossas mentes à realidade eterna que não passa jamais, a Deus; princípio e fim, alfa e ômega de nossa existência. A conversão não é, com efeito, nada mais que um voltar a Deus, valorizando as realidades terrenas sob a luz indefectível de sua verdade. Uma valorização que implica uma consciência cada vez mais diáfana do fato de que estamos de passagem neste fadigoso itinerário sobre a terra, e que nos impulsiona e estimula a trabalhar até o final, a fim de que o Reino de Deus se instaure dentro de nós e triunfe em sua justiça.
Sinônimo de "conversão", é também a palavra "penitência" … Penitência como mudança de mentalidade. Penitência como expressão de livre positivo esforço no seguimento de Cristo.
Tradição
Na Igreja primitiva, variava a duração da Quaresma, mas eventualmente começava seis semanas (42 dias) antes da Páscoa.
Isto só dava por resultado 36 dias de jejum (já que se excluem os domingos). No século VII foram acrescentados quatro dias antes do primeiro domingo da Quaresma estabelecendo os quarenta dias de jejum, para imitar o jejum de Cristo no deserto.
Era prática comum em Roma que os penitentes começassem sua penitênica pública no primeiro dia de Quaresma. Eles eram salpicados de cinzas, vestidos com saial e obrigados a manter-se longe até que se reoconciliassem com a Igreja na Quinta-feira Santa ou a Quinta-feira antes da Páscoa. Quando estas práticas caíram em desuso (do século VIII ao X) o início da temporada penitencial da Quaresma foi simbolizada colocando cinzas nas cabeças de toda a congregação.
Hoje em dia na Igreja, na Quarta-feira de Cinzas, o cristão recebe uma cruz na fronte com as cinzas obtidas da queima das palmas usadas no Domingo de Ramos do ano anterior. Esta tradição da Igreja ficou como um simples serviço em algumas Igrejas protestantes como a anglicana e a luterana. A Igreja Ortodoxa começa a quaresma a partir da segunda-feira anterior e não celebra a Quarta-feira de Cinzas.
INCENSO
O incenso vem de "incendere", "incender", é uma das resinas que produz um agradável aroma ao arder. Esta palavra latina dá também origem ao termo "incensário" (instrumento metálico para incensar), enquanto a raíz grega "tus", que também significa incenso, explica a palavra "turíbulo" (incensário) e "turiferário"(o que carrega o turíbulo).
O incenso é encontrado principalmente no Oriente, e desde antigamente no Egito, antes de os israelitas chegarem era usado em cerimônias religiosas, por seu fácil simbolismo de perfume e festa, de sinal de honra e respeito ou de sacrifício aos deuses. Já antes em torno da Arca da Aliança, mas sobretudo no templo de Jerusalém era clássico o rito do incenso (Ex. 30). A rainha de Sabá trouxe entre outros presentes grande quantidade de aromas a Salomão (1Rs.10). Os cristãos no século IV introduziram o incenso na linguagem simbólica de suas celebrações, quando se considerou superado o perigo anterior de confusão com os ritos idolátricos do culto romano.
Atualmente, o incenso é usado na missa, quando se quer ressaltar a festividade do dia, o altar, as imagens da Cruz ou da Virgem, o livro do evangelho, as oferendas sobre o altar, os ministros e o povo cristão no ofertório, o Santíssimo depois da consagração ou nas celebrações de culto eucarístico. Com isso quer significar às vezes um gesto de honra (ao Santíssimo, ao corpo do defunto nas exéquias), ou símbolo de oferenda sacrificial (no ofertório, tanto o pão e o vinho como as pessoas).
JEJUM
Chamamos "jejum" (latim "ieunium") à privação voluntária de comida durante algum tempo por motivo religioso, como ato de culto perante Deus.
Na Bíblia no jejum pode ser sinal de penitênica, expiação dos pecados, oração intensa ou vontade firme de conseguir algo.
Outras vezes, como nos quarenta dias de Moisés no monte ou de Elias no deserto ou de Jesus antes de começar sua missão, marca a preparação intensa para um acontecimento importante.
O jejum Eucarístico tem uma tradição milenar; como preparação para este sacramento, o cristão se abstém antes de outros alimentos.
É na Quaresma, desde o século IV, que sempre teve mais sentido aos cristãos o jejum como privação voluntária da que existem em outras culturas religiosas ou por motivos religiosos.
O jejum junto com a oração e a caridade, tem sido desde muito tempo uma "prática quaresmal" como sinal de conversão interior aos valores fundamentais do evangelho de Cristo. Atualmente nos abstemos de carne todas as sextas-feiras de Quaresma que não coincidem com alguma solenidade; fazemos abstinência e além do jejum (uma só refeição ao dia) na quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira Santa.
CÍRIO PASCAL
A palavra "círio" vem do latim "cereus", de cera, o produto das abelhas. Ao falar das "candeias" , aludíamos ao uso humano e ao sentido simbólico da luz que os círios produzem.
O círio mais importante é o que se acende na Vigília Pascal como símbolo de Cristo - Luz, e que fica sobre uma elegante coluna ou candelabro adornado.
O Círio Pascal é já desde os primeiros séculos um dos símbolos mais expressivos da vigília. Em meio à escuridão (toda a celebração é feita à noite e começa com as luzes apagadas), de uma fogueira previamente preparada se acende o Círio, que tem uma inscrição em forma de cruz, acompanhada da data do ano e das letras alfa e Ômega, a primeira e a última letra do alfabeto grego, para indicar que a posição de Cristo, princípio e fim do tempo e da eternidade, nos alcança com força sempre nova no ano concreto em que vivemos.
O Círio estará aceso em todas as celebrações durante cinqüenta dias, ao lado do ambão da Palavra, até a tarde do domingo de Pentecostes. Uma vez concluído o Tempo Pascal, convém que o Círio seja conservado dignamente no batistério, e não no presbitério.
QUINTA - FEIRA SANTA
A quinta - feira santa é o último dia da Quaresma e por sua vez, a partir da missa vespertina, a inauguração do Tríduo Pascal. Em latim seu nome clássico é "feria V in Coena Domini". É um dia íntimo para o povo cristão, certamente a quinta - feira mais importante do ano, principamente desde que a da Ascensão e do Corpus Christi são celebrados no domingo.
É o dia em que Cristo, em sua ceia de despedida antes da morte, instituiu a Eucaristia, deu a grande lição de humilde serviço lavando os pés dos seus apóstolos, e os constituiu sacerdotes mediadores de sua Palavra, de seus sacramentos e de sua salvação.
CEIA DO SENHOR
O nome que, junto ao de "fração do pão", o dá por exemplo São Paulo em 1Cor 11,20 ao que logo se chamou "Eucaristia" ou "Missa": "Kyriakon deipnon", ceia senhoril, do Senhor Jesus. É também o nome que se dá a Missa atual: "Missa ou Ceia do Senhor" (IGMR 2 e 7)
Na Quinta-feira Santa a Eucaristia com que se dá início ao Tríduo Pascal é a "Missa in Coena Domini", porque é a que mais intimamente recorda a instituição desde sacramento por Jesus em sua última ceia, adiantando assim sacramentalmente sua entrega na Cruz.
A Quaresma é o tempo litúrgico de conversão, que a Igreja Católica, a Igreja Anglicana e algumas protestantes marcam para preparar os crentes para a grande festa da Páscoa. Durante este período, os seus fiéis são convidados a um período de penitência e meditação, por meio da prática do jejum, da esmola e da oração.
A Quaresma dura 40 dias (os Domingos não contam). Começa na Quarta-feira de Cinzas e termina no Domingo de Páscoa. Ao longo deste período, sobretudo na liturgia do domingo, é feito um esforço para recuperar o ritmo e estilo de verdadeiros fiéis que pretendem viver como filhos de Deus.
A duração da Quaresma está baseada no simbolismo do número quarenta na Bíblia. Nesta, fala-se dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou o exílio dos judeus no Egito.
Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material, e seguido de zero significa o tempo de nossa vida na terra, seguido de provações e dificuldades.
O QUE O CANDOMBLE TEM A VER COM A CONDENAÇÃO DOS CRISTÃOS DO PAPA LÁ NO SÉCULO IV?
40 dias foi a pena do papa no século IV aos cristãos que desobedeciam a igreja e se envolviam na festa da carne (hoje conhecido como CARNAVAL - festa oriunda da cidade de Veneza), esses foram condenados a ficarem em quarentena, ficando em jejum de carne, músicas, alegrias, enfim tudo o que representasse o prazer da carne. Ótimo, respeito, mas o que o candomblé tem a ver com a condenação do paganismo, se ao ver dessa religião somos os próprios pagãos?
Já escrevia Dias Gomes em O PAGADOR DE PROMESSAS, condenando, através do personagem Zé do Burro, o ato da mais conhecida cerimônia de Salvador A LAVAGEM DA ESCADARIA DA IGREJA DO NOSSO SENHOR DO BOM FIM.
Mesmo que não estivéssemos abrindo mãos da nossa identidade (Universo), ficam as perguntas para os irmãos:
1- Por que teríamos que achar que Jesus cristo é Oxalá? E se esse Messias seria raspado na cabeça de um Yao? E quais seriam as folhas? Se fosse raspado, qual seriam as folhas de para o fundamento? As folhas de Oliveira ou os espinhos do Cactos?
2- Qual seria o propósito de estarmos cumprindo um dos requisitos da pena (não comer nem derramar sangue)? Visto que é uma data que antecipa a páscoa, ressurreição de cristo; e abrirmos kuras fazendo assim, não derramar sangue animal, e sim humano?
3- Por que estaríamos cumprindo um ritual que nem mesmo os cristãos cumprem? Pois não vemos mais nenhum deles ficarem 40 dias rezando, jejuando ou coisa assim.
Em resumo, nos meus 35 anos de iniciado, nunca me deram uma resposta. Gostaria se algum irmão discordasse, enviasse um e-mail para que eu possa tentar compreender, porque mesmo sendo filho da ignorância, do tempo em que nossos pais falavam "eu corto assim porque meu pai me ensinou que é assim e ponto". Como falei no meu artigo anterior estamos na era da cultura escrita e temos que levantar aquela bandeira içada por grandes zeladoras (Meninha do Gantuá, Olga de Alaketu), na tentativa de deixarmos de ser uma sombra do cristianismo.
Em tempo:
Um pouco do que vem a ser a quaresma: A duração da Quaresma está baseada no símbolo do número quarenta na Bíblia. Nesta, é falada dos quarenta dias do Dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias e Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou o exílio dos judeus no Egito.
Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material, seguido de zeros significa o tempo de nossa vida na terra, seguido de provações e dificuldades.
A prática da Quaresma data desde o século IV, quando se dá a tendência a constituí-la em tempo de penitência e de renovação para toda a Igreja, com a prática do jejum e da abstinência. Conservada com bastante vigor, ao menos em um princípio, nas Igrejas do oriente, a prática penitencial da quaresma tem sido cada vez mais abrandada no ocidente, mas deve-se observar um espírito penitencial e de conversão.
Candomblé respeita período da QuaresmaO tempo de parada não é igual para todas as casas, isso vai depender de cada terreiro, de cada calendário litúrgico e de cada nação cultuada
A Quaresma não é um tempo sagrado respeitado somente pelos católicos. Jejuar, não comer carne vermelha na quarta e sexta-feira da Semana Santa e não festejar durante este período também são preceitos realizados pelos praticantes da religião candomblé. Neste período, muitos terreiros fecham suas portas e só reabrem na Páscoa, a exemplo do que acontece no Abaça São Jorge, a casa de Marizete Silva Lessa, 74 anos, há 65 na religião e conhecida em Aracaju somente como "Mãe Marizete". Ela fez o ritual de fechamento no último domingo, dia 13, e só vai reabrir o ilê (que significa casa em linguagem africana, o iorubá) no dia 27 de março. A única coisa que pretende realizar nesses dias é a consulta através do jogo de búzios. Mas alguns ilês praticam algo mais do que isso, cultuam seus orixás, mas de forma silenciosa, sem o barulho dos atabaques, indispensáveis nas festas em terreiros. Tradicionalmente, esse recesso é chamado de Lorogum, palavra iorubá que significa fofoca. "Se fôssemos traduzir o que a palavra quer dizer ao pé da letra, seria o tempo em que as casas devem fechar em sinal de respeito, até para não ter muita falação, muita história", comenta Mãe Marizete.O tempo de parada não é igual para todas as casas, isso vai depender de cada terreiro, de cada calendário litúrgico e de cada nação cultuada, mas de acordo com Mãe Marizete varia entre 12 e 15 dias. Alguns deverão reiniciar as atividades em maio, quando será celebrado o Corpus Christi, inclusive por conta de um processo histórico, já que no passado essa era uma data de grande festa no catolicismo e os negros aproveitavam para festejar com mais liberdade suas divindades. Segundo Mãe Marizete, o Lorogum é realmente a expressão do respeito pelo catolicismo, pois segundo ela quem é adepto do candomblé também é, de certa forma, praticante da religião católica, embora o candomblé não cultue imagens, muito menos as católicas, mas os símbolos da natureza, como as pedras."Apesar de todo o preconceito que os sergipanos ainda possuem contra nossa religião, atualmente já podemos ter essa proximidade, pois já aceitam, por exemplo, que a gente lave as escadarias da Catedral de Aracaju no dia de Oxum, comemorado em 8 de dezembro", falou a ialorixá. Mãe Marizete disse que apesar de resistente ao tempo, tanto o Lorogum quanto a Quaresma estão perdendo as características. Há alguns anos, segundo a ialorixá, tudo o que havia dentro do quarto de santo (no candomblé) era coberto com lençol ou pano de cor branca, enquanto nas igrejas católicas todas as imagens de santos eram encobertas com panos de cor roxa. "Hoje já não se vê mais isto, mas continuamos com o mesmo respeito", finalizou.