quinta-feira, agosto 30, 2007

JUREMA - ARVORE SAGRADA











JUREMA - A ARVORE SAGRADA


A Jurema, praticada em comunidades de índios visa curar os doentes e resolver problemas como infortúnio amorosa e profissionais.
Desde o século XVI, documentos escritos pelos colonizadores e narrativas deixadas por cronistas e viajantes, relatam rituais mágico-religiosos encontrados entre populações indígenas do nordeste brasileiro, em que nativos bebiam, fumavam, manipulavam ervas e invocavam seus antepassados. Um desses escritores descreveu a santidade do Jaguaribe ocorrida no sertão bahiano por volta de 1583. Evidencia um processo de religiosidade sincrética nascida no encontro de missionários e índios, além de revela relações de dominação-subordinação entre nativos e portugueses. O culto aos maracás da santidade reproduz a crença de que esses maracás obrigavam os espíritos, sendo adorados e idolatrados através de cantos, danças e do uso do tabaco. Apresenta-se simbolicamente como uma forma de resistência da população indígena contra a colonização portuguesa.

Culto
O culto a pratica da jurema está para a Paraíba, assim como o Iroko está para a Bahia. A pratica da Jurema nordestina, também conhecida como catimbó, é aparte de um longo processo encontrado nas comunidades indígenas e no interior de diferentes religiões afro-brasileiras, como o candomblé, o xangô e a umbanda. A jurema compõe um complexo de concepções e representações em torno da planta com esse nome e se fundamenta nos cultos de possessão aos mestres, cujos objetivos é curar os doentes e resolver os problemas práticos da vida cotidiana, como os infortúnios amorosos e profissionais. Esse complexo inclui ainda a bebida preparada com a casca da jurema e o uso da fumaça dos cachimbos nos rituais.
Esta arvore tipicamente paraibana, apesar de existir também em outros estados do nordeste, era venerada pelos índios potiguares e tabajaras, muitos séculos antes da descoberta Brasil. Em Pernambuco, existe um município cujo nome e Jurema devido a grande quantidade destas árvores que ali se encontra. A jurema (mimosa hostilis) depois de crescida é uma frondosa árvore que vive mais de 200 anos. Todas as partes dessa arvore são aproveitadas: a raiz, a casca, as folhas e as sementes, utilizadas em banhos de limpeza, infusões, ungüentos, bebidas e para outros fins ritualísticos. Os devotos iniciados nos rituais do culto são chamados de “Juremeiros”. Foi na cidade de Alhandra, município à poucos quilômetros de João Pessoa, que esse culto, na forma do Catimbó alcançou fama. A Jurema ja era cultuada na antiguidade por pelo menos dois grandes grupos indígenas, o dos tupis e o dos cariris também chamados de tapuias. Os tupis se dividiam em tabajaras e potiguares, que eram inimigos entre si. Na época da fundação da Paraíba, os tabajaras formavam um grupo de aproximadamente cinco mil índios. Eles ocupavam o litoral e fundaram as aldeias Alhandra e a de Taquara.
Uma explicação mitológica apresenta a visão cristã quanto à origem do culto ao afirmar, que antes do nascimento de Jesus Cristo, a jurema era tida como uma arvore comum, mas quando a virgem Maria, fugindo de Herodes, no seu êxodo para o êxito, escondeu o menino Jesus num pé de jurema, que fez com que os soldados romanos não o vissem, imediatamente a árvore encheu-se de poderes sagrados.



Jurema sagrada
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Jurema sagrada como tradição "mágica" religiosa, ainda é um assunto pouco estudado. É uma tradição nordestina que se iniciou com o uso desta planta pelos indígenas da região norte e nordeste do Brasil, mas que, atualmente possui influências as mais variadas, e que vão desde a feitiçaria européia até a pajelança indígena, passando pelas religiões africanas, pelo catolicismo popular, e até mesmo pelo esoterismo moderno e pelo cristianismo esotérico. No contexto do sincretismo brasileiro afro-ameríndio, a presença ou não da jurema como elemento sagrado do culto vem estabelecer a diferença principal entre as práticas de umbanda e do catimbó .

A planta
A Jurema (Acácia Jurema mart.) é uma das muitas espécies das quais a Acácia é o gênero. Várias espécies de Acácia nativas do nordeste brasileiro recebem o nome popular de Jurema.
As Acácias sempre foram consideradas plantas sagradas por diferentes povos e culturas de todo o mundo; Os Egípcios e Hebreus veneravam a "Acácia nilótica" (Sant, Shittim, Senneh), os Hindus a "Acácia suma" (Sami), os Árabes a "Acácia arábica" (Al-uzzah), os Incas e outros povos indígenas da América do sul veneravam a "Acácia cebil"(vilca, Huillca, Cebil), os nativos do Orinoco a "Acácia niopo" (Yopo) e os índios do nordeste brasileiro tinham na "Acácia jurema" (Jurema, Jerema, Calumbi) a sua árvore sagrada, a sua Acácia, ao redor da qual desenvolveu-se essa tradição hoje conhecida como "Jurema sagrada".

Origens
A jurema sagrada é remanescente da tradição religiosa dos índios que habitavam o litoral da Paraíba e dos seus pajés, grandes conhecedores dos mistérios do além, plantas e dos animais. Depois da chegada dos africanos no Brasil, quando estes fugiam dos engenhos onde estavam escravizados, encontravam abrigo nas aldeias indígenas, e através desse contato, os africanos trocavam o que tinham de conhecimento religioso em comum com os índios. Pôr isso até hoje, os grandes mestres juremeiros conhecidos, são sempre mestiços com sangue índio e negro. Os africanos contribuíram com o seu conhecimento sobre o culto dos mortos egun e das divindades da natureza os orixás voduns e inkices. Os índios, estes contribuíram com o conhecimento de invocações dos espíritos de antigos pajés e dos trabalhos realizados com os encantados das matas e dos rios. Daí a jurema se compor de duas grandes linhas de trabalho: a linha dos mestres de jurema e a linha dos encantados.
A influência européia se fez presente através do selo de Salomão, este consiste de dois triângulos entrelaçados cuja origem atribui-se aos antigos persas. Diz à lenda que o símbolo era usado para invocar o rei Salomão e assim aprisionar os djins (gênios) sem vasos. Na Índia o mesmo símbolo é chamado de Signo de Vishnu e é desenhado nas portas das casas com um talismã contra o mal. No nordeste este costume ainda existe e na linguagem típica é chamado "Sino Salomão". Segundo os seguidores da corrente dita "iniciática" do Adjunto da jurema ( [2] ), Salomão, o Rei de Israel, teria sido um grande Mestre na Jurema.

REGISTROS HISTÓRICOS
Prisão de índio por participar de adjunto de jurema no Rio Grande do Norte no século XVIII.
“Aos dois de junho de mil setecentos e cinqüenta e oito anos faleceu da vida presente Antônio, índio preso na cadeia desta cidade, por razão do sumário, que se fez contra os índios da aldeia de Mepibu, os quais fizeram adjunto de jurema, que se diz supersticioso; de idade de vinte e dois anos, ao julgar, e pouco mais, ou menos; faleceu confessado e sacramentado; foi sepultado no adro desta Matriz de Nossa Senhora da Apresentação da Cidade do Natal do Rio Grande do Norte; foi encomendado pelo Reverendo Coadjutor João Tavares da Fonseca; e pelo seu assento fiz este, em que por verdade me assinei: Manuel Correia Gómez, Vigário.” (CASCUDO, Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 1969. p. 37)
Recomendação do Bispo de Pernambuco para os párocos destinados à catequese dos índios, século XVIII.
“... lhes encarregamos muito o cuidado que deves ter em manter os seus fregueses na freqüência da igreja e recepção dos sacramentos e assistência da doutrina cristã, (...) porque sendo os índios naturalmente descuidados, deve o pároco aplicar maior desvelo em os doutrinar (...) para que não afrouxem os nos exercícios espirituais conducentes para a sua salvação (...) que estes pobres índios, neófitos necessitam de dobrado cuidado, e vigilância do pároco os conservar na observância dos dogmas e ritos católicos, exportados de algumas ações filhas da sua brutal e gentílica natureza (...) principalmente para que não pratiquem a sua célebre bebida chamada da jurema que a constante bebem em lugares retirados, e por ser bebida forte ficam embriagados, e alienados do juízo, fingem visões, indignas de católicas: cujos erros se devem extinguir quanto couber nas forças de um diligente pároco: como também outros infames ritos e abusos de certas danças, a que chamam Paracês.” (AHU, Caixa de Pernambuco, 22.03.1759)

[[Narrativa de Henry Koster sobre os ritos dos índios nos engenhos ao Norte de Olinda no século XIX.]]
“conversando um dia com pessoas de condição mais elevada, ouvi por acaso citar alguns índios que continuavam a observar os seus costumes religiosos. Um engenho próximo do meu era ocupado por uma família de pardos muito unidos com vários índios, embora não constasse entre seus membros um só individuo daquela casta. Quando os chefes das diferentes famílias se ausentavam as moças reuniam-se para brincar. Certo dia uma jovem índia levou uma companheira até a choupana em moravam os pais. Esta, curiosa como uma moça mesmo, interrogou a índia acerca de umas cabaças que viu dependuradas na parede e a índia parecendo assustada disse: “não olhe para este lado; aquilo são “maracás”, que meu pai e minha mãe guardam sempre no baú, mas de que hoje se esqueceram”; apesar deste pedido, a moça pegou numa das cabaças e balançou-a, notando que continha seixos, bem como todas tinham abelhas e um molhe de cabelos na parte superior, sendo, além disso, extraordinariamente polidas e a cousa ficou nisso. Pouco tempo depois diversas mulatinhas resolveram espreitar os índios, que sabiam, costumavam dançar muitas vezes nas choupanas a portas fechadas, o que além de ser fora de uso, era, sobretudo incomodo, por que tal exercício é mais agradável ao ar livre. Depressa tiveram ocasião de observar uma das reuniões clandestinas. As cabanas eram construídas de palhas de coqueiros, e as meninas abriram nelas uma brecha pela qual podiam ver o que se passava no interior. Um enorme vaso de barro estava colocado no centro da cabana e as assistentes, machas e fêmeas dançavam ao redor. De quando em quando passavam o cachimbo uns aos outros. Ouviram uma indiazinha contando a outra que uma noite mandavam-na dormir à casa do vizinho porque o pai e a mãe tinham de beber a “Jurema”. Esta bebida, dizem, é extraída de uma erva mui comum, porém nunca pude persuadir um índio a montar e quando um indivíduo dessa raça me afirmava não conhecê-la, o seu ar desmentia-lhe as palavras.”
(Henry Koster, Existe uma edição recente desse livro pela FUNDAJ, infelizmente o texto em que tenho esta citação não contém a fonte com dados de ano a página.).
Descrição da cerimônia da Jurema registrada por Curt Nimuendaju
Um velho de 83 anos oriundo da Aldeia de Trancoso, Apolinário, transmitiu a Nimuendaju, também em 1938, na Aldeia de Santa Rosa, alguns mitos sobre temas variados, como o da cabeça sem corpo, perna de lança, gêmeos, fim do mundo e a cerimônia da jurema. Ele e outro índio velho que Nimuendaju mandou buscar em São Bento, às suas expensas, ainda se lembraram do culto da jurema, que, conforme Nimuendaju, os Kamuru da Pedra Branca introduziram na aldeia de Santa Rosa, um deles tendo descrito as visões que havia tido (Viveiros de Castro 1984: 71-73). Apolinário revelou que nos anos de sua mocidade, ele havia tomado parte na cerimônia da jurema celebrada pelos Kamuru-Kariri (ib.:73). Devido à sua especial relevância, transcrevemos, a seguir, esse último mito.
“Cerimônia da Jurema* Iam-se buscar, a leste do sítio da cerimônia, pedaços de galhos de jurema dos quais se tirava a casca, de cima para baixo, com um bastão de pau. A massa lenhosa era posta em infusão com água e depois espremida numa cuia especial (com um prolongamento que servia de cabo). A cerimônia era executada durante a noite para os neobrasileiros não saberem dela. Um certo número de moças sentava-se ao redor da cuia. Elas fumavam de um grosso cachimbo de barro e sopravam a fumaça sobre a bebida, onde ela formava uma camada espessa. Um velho, com um maracá enfeitado com um mosaico de penas grudadas, dançava, com o torso curvado, ao redor do grupo, cantando: Endarindandá nafé nafé nafé! E as moças respondiam: Darindarindandá! Em seguida, o velho dava às moças e aos homens, que formavam uma fileira ao lado, um pouco da bebida de jurema numa pequena tigela de barro. A jurema mostra o mundo inteiro a quem a bebe: vê-se o céu aberto, cujo fundo é inteiramente vermelho; vê-se a”. Morada luminosa de Deus; vê-se o campo de flores onde habitam as almas dos índios mortos, separadas das almas dos outros. Ao fundo vê-se uma serra azul. Vêem-se as aves do campo de flores: beija-flores, sofrês e sabiás. À sua entrada estão os rochedos que se entrechocam, esmagando as almas dos maus quando estas querem passar entre eles. Vê-se como o sol passa por debaixo da terra. Vê-se também a ave do trovão, que é desta altura (um metro). Seus olhos são como os da arara, suas pernas são vermelhas e no alto da sua cabeça ela traz um enorme penacho. Abrindo e fechando este penacho, ela produz o raio e, quando corre para lá e para cá, o trovão (*) nos anos de sua mocidade, o meu informante ainda tomou parte na cerimônia da jurema que os descendentes dos Kamuru-Kariri celebravam na aldeia de Santa Rosa”

OS MESTRES

O mestre é a entidade espiritual central. Cada um deles é um falecido juremeiro, que detinha os conhecimentos da pratica. A mesma denominação é dada, nas cerimônias, ao dirigente de uma sessão. Os mestres vivos incorporam os mestres mortos, que habitam as cidades sagradas da jurema (O culto tem como base um sistema no qual a jurema é uma arvore sagrada e em torno dela, dispõe-se o “reino dos encantados” formando por cidades que são habitadas pelos mestres), ligando esses dois mundos por meio de transe. Cada um tem uma linha, representada pelo cântico entoados pelo dirigente. A linha resume a ação sobrenatural as excelências do poder e a sua especialidade técnica. Além dos mestres, outra categoria de espírito é significativa, o caboclo, ao qual se atribui identificação indígena e conhecimento de ervas e raízes. São muitas as entidades espirituais cultuadas no universo da jurema, entre elas Mestre Carlos, Mestre Seu Zé Pilintra, Manoel Cadete, Mestre Faustina, Mestre Germano, Mestra Luziara e Mestra Maria dos Açaís.

SEGREDO PARA INICIADO
Durante os rituais, bebe-se a jurema, um vinho feito com algumas plantas e a principio ativo é a triptamina, que age no sistema nervoso central. Alguns pesquisadores dizem que essa substancia não é biologicamente ativa se administrada oralmente. (O vinho preparado nos cultos afro-brasileiro é composto também pela associação de Mel, álcool (vinho ou cachaça)) e diferentes vegetais, com erva-doce, hortelã, gengibre, cravo e canela. O preparado da bebida continua sendo um segredo só para iniciados. Pesquisadores e cientistas de etnobotânica lembra que procedimentos e circunstancias envolvido na preparação e uso de bebidas rituais pode interferir na composição química do liquido e na sua psicoativa. Se por um lado, o vinho da jurema este investido de todo um simbolismo, por outro lado seu aspecto terapêutico continua sendo reconhecido pelos adeptos dos cultos.
Há um inventario de saberes da flora medicinal no âmbito dos terreiros, de maneira a compor um vasto receituário que inclui sementes, cascas, raízes, folhas, raminhos e flores, preparados por eles ou indicados, mediante conselho das entidades, para a realização de defumação, xaropes,, chá, emplastos, fricção, banhos etc.
A iniciação na jurema se dá através da vivencia cotidiana das praticas nos terreiros, como em toda a religião. O aprendizado dos segredos da jurema é individual. O iniciado é recolhido por um período mínimo de três dias, para receber os axés. No final há uma festa aberta ao publico para apresentação do juremeiro, quando se diz que ele foi enjuremado.
A cerimônia, mas freqüente é o toque de jurema, sessão pública destinada à consulta verbal às entidades, por ocasião do transe mediúnico, para atender a pedidos dos consulentes. Em forma de roda, gira, os integrantes cantam e dançam, ao som das maracás e ilus, bebem jurema, consome bebidas alcoólicas e fumo, marcando o caráter lúdico e transgressor do ritual.





CHAMADA DE CABOCLOS

Eu vi meu pai assoviar//Ele mandou chamar/Eu vi meu pai assobiar/Ele mandou chamar/É de Aruanda ê/É de Aruanda auê/Todos caboclosde Aruanda/É de Aruanda auê/Quem manda na mata é Oxóssi/Oxóssi é caçador/Oxóssi é caçadorArreia capangueiro/Capangueiro da Jurema/Arreia capangueiro/Capangueiro JuremáTambor, tambor/Chama quem mora longeChama Oxossi/Nas matasChama Ogum Humaitá/Chama Xangô/Na pedreira/Chama Mamãe Iemanjá/Onde está a Jurema?/A Jurema a onde está?/ Tá procurando os capangueiros/Que ainda estão na Juremá/Quem mandou chamar/Em nome do Pai Oxalá?/Foi seu Oxóssi caçador/Que já baixou nesse gongar/Salve todo o povo da Jurema/Salve sua luz/Seu jacutá/Levando a todos larese seus filhosTrazendo paz e amor
Na fé de Oxalá


Assovia, assoviaEle assoviouAssovia, assoviaEle assoviouCadê os caboclos da mataQue ainda não chegou Oxalá mandou...
Oxalá mandou,Ele mandou buscarOs caboclos da JuremaOi lá da JuremáPai OxaláEle é o reiDo mundo inteiroJá deu ordem p’ra JuremaMandar seus capangueirosMandai, mandaiMinha Cabocla JuremaCom seus guerreirosCumprir a ordem suprema...