sábado, abril 14, 2007

PRESEPIO AFRO - BRASILEIRO




PRESEPIO AFRO-BRASILEIRORELIGIÃO Fotos: Maurilo Clareto/ÉPOCA DIVERSIDADE O presépio baseado no candomblé (à esq.) divide olhares com a cena tradicional procedente da Alemanha O sincretismo religioso brasileiro serviu de inspiração para a montagem do Presépios. A mostra - realizada no claustro do Convento São Francisco, no centro de São Paulo, até 12 de janeiro - reúne 31 representações do nascimento de Jesus a partir de elementos religiosos e culturais do Brasil e de outros 14 países. O destaque fica por conta da inusitada montagem inspirada na religião africana do candomblé. Nela, José é simbolizado por um filho de Gandhi, a Virgem Maria é uma rainha africana. Um bebê negro é Cristo. O cenário completa-se com bonecos caracterizados de orixás, as divindades da crença, voltados para a direção do Menino Jesus. 'Nosso propósito é atingir o público mais amplo possível, por isso reunimos elementos de temática africana, indígena e popular, além de expressões tradicionais e contemporâneas', diz o frei Pedro Pinheiro da Silva, coordenador artístico da exposição. 'Propusemos um presépio inspirado no candomblé para tratar da tolerância religiosa e mostrar que são vários os caminhos que levam a Deus.' ARTE POPULAR Montagem feita a partir de peças artesanais fabricadas em cerâmica por artistas da cidade de Guadalajara, no México A iniciativa, no entanto, divide opiniões. 'Candomblé nada tem a ver com imagens, muito menos com presépio. Nem sequer comemoramos o Natal', contesta a ialorixá Sylvia de Oxalá. 'É preciso respeitar as crenças alheias, mas muita gente mistura as coisas para ser simpático, o que considero inadmissível.' A opinião da ialorixá é compartilhada pelo pastor Levi Barbosa Libarino, da Igreja Evangélica Assembléia de Deus. 'Presépio com os elementos cristãos é algo tolerável no contexto da Igreja Romana, mas misturar elementos de outras religiões é absurdo', critica. Frei Silva lamenta. 'Algumas pessoas ainda estão atarracadamente posicionadas no tradicionalismo, mas a Igreja Católica está num processo de maior maturidade', diz ele. O pastor luterano Milton Schwantes concorda. 'Toda religião convive e aprende com outras. Considero esse encontro com o candomblé algo absolutamente encantador, sobretudo pela maneira como o cristianismo foi imposto aos negros e também aos índios', afirma Schwantes.




Revista EPOCA


Edição 238 - 09/12/02