quarta-feira, junho 06, 2007

A GENEROSIDADE VEM DAS ÁGUAS

A GENEROSIDADE VEM DA FORÇA DAS ÁGUAS
"As diferentes tradições do candomblé crêem que o universo tem dois lugares, duas grandes partes. Uma que é o espaço dos viventes, nós seres humanos. E outra que é lugar próprio dos encantados: dos caboclos, dos inquices, dos orixás, dos voduncis e dos ancestrais. A religião permite que haja comunicação entre as partes do universo, cada qual com suas finalidades. Os seres humanos precisam comunicar-se com o mundo dos encantados para viver melhor. É essa comunicação continuada que dá força para a vida em sociedade, para a existência entre os viventes.Nesse sentido viver é procurar estar cada vez melhor, e morrer é integrar-se num sistema de comunicação e apoio à sobrevivência de todos. O povo de candomblé não vive a esperar pela morte e o seu envio a outro mundo melhor. É nesse mundo dos viventes que se procura o melhor, e para isso é essencial fazer algo com a força dos encantados.Assim que em quase todas as associações civis dos Terreiros encontram-se objetivos de fazer algo pelo outro, pela melhoria das condições de vida de todos: especialmente em educação e saúde. Esse fato é quase uma consequência natural da reunião de religiosos que não se conformam à espera da morte, ao contrário, são pessoas cuja fé visa sempre dias melhores para os viventes. É dessa espiritualidade que emergem as ações sociais dos Terreiros."


Os terreiros de candomblé são ambientes de vida comunitária do culto afro-brasileiro de grande expressão. Além das atividades caracteristicamente religiosas, desempenham aquelas de cunho sócio-econômico e cultural de grande valor, nas comunidades em que se encontram. Constituem-se como verdadeiros pólos de prestação de serviços à circunvizinhança, o que os identifica como referência local.
Movidos por razões historicamente explicadas, como, perseguição e repressão policial, busca de ambientes naturais para desenvolvimento do culto, além do baixo poder aquisitivo para compra de terrenos nos grandes centros urbanos, os terreiros de candomblé se apresentam com maiores densidades nas áreas periféricas da cidade.
A periferia pode estar localizada próximo aos grandes centros urbanos. Porém, se apresenta com os menores índices de habitabilidade Sua população é tipicamente constituída de moradores sem condição de vida digna, e as residências são diferenciadas das demais pelas pequenas dimensões e superlotação. É, portanto, detentora das maiores taxas de adensamento populacional da cidade.
Essas áreas, atualmente se apresentam, em sua quase totalidade, habitadas por população de baixa renda. Sua população é submetida a um processo de exclusão dos direitos à cidadania, como a falta de saneamento básico, atendimento público médico-hospitalar. É assinalada pela alta incidência de desemprego e baixo acesso à educação formal.
Dentro dessas comunidades os grupos de culto e as associações civis (instituições juridicamente constituídas)que os representam desempenham importante papel nas circunvizinhanças a que pertencem. Buscam a melhoria da qualidade de vida a partir da oferta de assistência social, atividades culturais e defesa dos direitos comunitários. Esses são objetivos constantes da maioria dos seus estatutos.
Nesse sentido, vários terreiros podem ser referenciados, dentro das mais diversas formas de prestação de serviços comunitários. Podemos citar:
O Ilê Obá do Cobre - com o desenvolvimento de atividades voltadas à educação formal e informal, como a alfabetização de adultos e crianças e oficinas (workshops) recreativas. Tais oficinas (workshops) buscam, prioritariamente, oferecer atividades aos jovens e crianças, como alternativa à vida nas ruas, que os levariam, conseqüentemente à marginalização.
O Ilê Axé Opô Afonjá - com atividades similares às já citadas, inclusive apoiados pela Unicef. Possui, em suas dependências, uma escola de educação formalmente constituída, conveniada com a rede municipal de ensino.
O Terreiro do Vodunzô - preocupa-se, prioritariamente com as crianças, oferecendo-lhes oficinas (workshops) de capoeira e promovendo encontros para estimular participação e envolvimento.
Muitos outros, além desse tipo de promoção, buscam angariar alimentos para fornecer cestas básicas às famílias menos favorecidas.
O envolvimento dos líderes de terreiros de candomblé com a comunidade onde se encontra instalado é expressivo , no que diz respeito à prestação de serviços na área sócio-cultural. As referidas casas, normalmente, localizam-se em regiões de baixa renda, onde a comunidade não tem fácil acesso à educação formal, atividades culturais, assistência médico-odontológica, e nem mesmo a uma alimentação básica digna.
Dessa forma, as práticas desenvolvidas pelos terreiros de candomblé se constituem em importantes instrumentos promotores de educação, inserção no mercado de trabalho, ainda que de forma tímida, prevenção e atenuação de doenças, bem como de luta para a superação da auto-estima de uma população colocada à margem da sociedade.




A COMUNIDADE: O LOCAL E POPULAÇÃO

A Auto-avaliação sobre a missão da Casa
A Estes projetos se apresentam como meta entre as casas de candomblé. Entende-se que eles contribuem para uma maior integração com a comunidade, fortalecimento do individuo enquanto cidadão, principalmente, em termos educacionais e profissionais, a partir da conscientização dos direitos e deveres do cidadão diante da sociedade.
Um indicativo da importância atribuída a tais projetos é encontrado no próprio estatuto da associação civil que representa o terreiro, quando da descrição de suas finalidades: tem por finalidade preservar e promover atividades culturais e Afro-brasileiras... alcançando a educação, saúde, assistência social .

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